Artigo de Dom Pedro

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Artigo dominical
Presença
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Conta madre Teresa de Calcutá: “Uma Irmã me disse que em Bombay, ela e algumas outras, tinham recolhido um homem que estava abandonado na rua e o tinham levado para casa. Lá dispomos de um lugar espaçoso que nos foi doado e que nós transformamos em casa de acolhida para pessoas incuráveis. As Irmãs tomaram conta do homem. O amaram e o trataram com dignidade. Logo viram que as costas dele não tinham mais pele e nem carne. Estava todo consumido. Depois de tê-lo lavado, o colocaram numa maca e aquela Irmã me disse que nunca tinha visto tanta felicidade quanto a viu no rosto daquele homem. Então, eu perguntei a ela: – O que você sentiu quando tiraram os vermes do corpo dele? Me diga. Ela olhou para mim e depois falou: – Nunca antes tinha percebido a presença de Jesus; nunca tinha acreditado de verdade nas palavras dele: “Estava doente” e “Foi a mim que o fizeram”. Naquele momento a presença de Jesus estava naquele homem e eu podia vê-lo naquele rosto -.”
Já deveríamos ter percebido que o evangelho de Lucas fala muito de riqueza e de pobreza, de administradores e empregados, mas, sobretudo, de ricos e de pobres. Ou seja, não apresenta teorias econômicas, analises sociológicas ou organizações político-partidárias. Fala de pessoas, porque é na vida de todos os dias que se vê de que lado estamos e, também, por aqui fazemos a opção de que lado queremos estar. Não cabe a nós decidir se nascemos em berço de ouro, de prata ou suficiente para sobreviver. Podemos, porém, escolher se ficarmos indiferentes ou não à situação dos menos favorecidos. A parábola do rico e do pobre Lázaro, que encontramos no evangelho deste domingo, é um retrato cruel da realidade. Diferenças sociais graves e gritantes existem, muitas vezes parecem insuperáveis, mas muito, ou tudo, depende de como compreendemos a situação e assumimos as responsabilidades às quais a vida nos chamou.
Exigir, como muitos pensam, que o pobre se ajeite sozinho, achar que se fica na miséria é culpa dele, é, no mínimo, dureza de coração. Significa esquecer completamente a complexidade das situações, das condições e possibilidades de cada um. É julgar, enfim, que todos são iguais…a nós. E pensar que basta querer para resolver tudo. Mas não é bem assim e, por isso, chegamos a cogitar que Deus seja injusto com os seus filhos. Por que não refletimos melhor sobre as responsabilidades e acreditamos que Deus é muito mais “pai” do que suspeitamos? Não é ele que é injusto, ele distribui tantos dons materiais, de sabedoria e inteligência, que teríamos de sobra se soubéssemos partilhá-los mais. Porque não são as riquezas que faltam, é a sua má distribuição. Não é terra para cultivar que falta, é a cobiça de quem constrói trincheiras. Não é o planeta que está se tornando pequeno, é o lucro insaciável de alguns, poucos, que tira dignidade aos demais. Somos nós, neste mundo, que criamos “abismos” insuperáveis. O paraíso e o inferno da par ábola, são o espelho, ao contrário, das mordomias e dos tormentos que nós criamos com o nosso egoísmo, maldade e indiferença. Fica claro que cabe a nós, nesta vida terrena, resolver as injustiças, derrubar as barreiras, construir pontes e abrir portas. Deus Pai já fez o que o seu amor sem limites lhe pediu: enviou o seu próprio Filho Jesus. Este doou tudo, até a última gota do seu sangue na cruz. Não considerou um privilégio ser como Deus, mas se fez nada, assumindo a nossa humanidade pecadora (Fl 2,6-11). Por isso o Pai o ressuscitou. Mas nós continuamos a não acreditar no seu exemplo, na sua palavra, na sua vitória sobre a morte. O caminho do amor, não é um caminho fácil, passa pela cruz, mas é o único caminho da Vida Nova, da Vida Plena que Jesus nos trouxe.
Com o último domingo de setembro, encerramos o mês da Bíblia. A Palavra de Deus é viva, não está fechada num livro. O Espírito Santo fala à nossa consciência e ao nosso coração. Ele nos lembra sempre o que Jesus ensinou, mas também nos ajuda a reconhece-lo nas chagas dos irmãos e irmãs sofredores. Se o deixamos.

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