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Reflexão para o Domingo da Solenidade de São Pedro e São Paulo | 3 JULHO 2022 – Ano “C” 
Por Dom Pedro José Conti

Muitos anos atrás, na China, um camponês trabalhava na sua roça. De repente, avistou uma quadriga que se aproximava. Eram quatro cavalos da raça que o camponês nunca tinha visto. A quadriga era conduzida por um forte guerreiro, que, em pé sobre o carro de guerra, controlava os animais. Chegando perto do camponês, ele perguntou:

– Qual é o caminho que leva ao reino de Chou? O camponês, ainda encantado com o carro e os cavalos, ia começar a dizer que precisava dar meia volta, pois o reino de Chou ficava justamente na direção oposta, mas o guerreiro nem deixou o homem falar. Começou a elogiar os seus próprios animais. Depois, vendo o agricultor interessado, começou a detalhar as qualidades da quadriga e, ainda, explicou como, com aqueles cavalos, o carro, a sua força e inteligência, não tinha medo de nada e teria enfrentado qualquer inimigo. Todo empolgado, tocou os seus cavalos e saiu em disparada. E o camponês gritou em vão:

– Mas Chou fica na direção contrária!

Neste domingo, celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo. No Símbolo Niceno-Costantinopolitano afirmamos todos juntos: “Creio na Igreja, uma, santa, católica e apostólica”. Continuamos a acreditar na Boa Notícia que aquelas primeiras testemunhas espalharam obedecendo à ordem de Jesus de não ter medo e de ir até os confins da terra.

No dia de hoje, damos um destaque especial à missão do Papa, que nestes tempos, tem o nome de Francisco. Por ser um só, o Santo Padre representa e simboliza a unidade da Igreja. Essa se realiza não tanto ao redor da sua pessoa simplesmente, quanto nos rumos pelos quais cada Papa se esforça para conduzir o Povo de Deus do qual ele também faz parte, mas que, ao mesmo tempo, deve orientar. Ser Papa é uma verdadeira missão, talvez um lento martírio vivido, muitas vezes, no silêncio da própria consciência. Não é por acaso que em todas as missas, em qualquer lugar do mundo, rezamos pelo Papa Francisco. Para ele, pedimos a Deus saúde, força, coragem, muita luz para apascentar o rebanho de Jesus nestes tempos conturbados. Quando foi fácil ser Papa? Nunca, com certeza.

Papa Francisco é hoje considerado um dos maiores – se não o maior – líderes mundial, não pelo poder estratégico, econômico ou das armas, mas pela força moral de colocar questões que dizem respeito a toda a humanidade. Sobretudo os temas da ecologia, da paz, da fome e da justiça com os pobres. Na Igreja, também, o Papa Francisco deu passos importantes. Lembramos o Ano da Misericórdia, os Sínodos sobre a Juventude e a Amazônia, documentos como “A alegria do Evangelho”, “Laudato Sí”, “Fratelli tutti”, “A alegria do amor na Família”. Ultimamente, promoveu uma nova reforma na Cúria Romana, que é o conjunto de organismos que assessoram o Papa na direção da Igreja toda. No entanto, não é segredo para ninguém, que o Papa Francisco recebe também muitas críticas e até acusações, mais de pessoas da Igreja do que de outros de fora. Obviamente um consenso absoluto seria até duvidoso e nem sempre positivo.

Um honesto debate e sinceros questionamentos ajudam qualquer comunidade a caminhar. Ninguém pode achar ter o monopólio absoluto da verdade. Muito raramente os próprios Papas recorreram a afirmações pronunciadas com todo o peso da sua autoridade. Contudo, o magistério deles deve ser acolhido com o “obséquio da fé”, ou seja, com a confiança de quem vê a Igreja não como uma grande organização humana, mas como “o germe e o início do Reino” anunciado por Jesus (LG 5). Se tem uma palavra cara ao Papa Francisco é “escutar”. Antes dos últimos Sínodos houve uma grande movimentação de escuta e isso está acontecendo com a preparação do próximo, programado para outubro de 2023, sobre o tema da “Sinodalidade”. Se queremos caminhar juntos, precisamos nos esforçar de nos escutar mais uns aos outros. Eu tenho a impressão de que alguns dos críticos do Papa Francisco nunca leram os documentos e os discursos dele, porque o acusam de dizer ou fazer coisas que nunca disse ou fez. Vale também para o Papa: antes vamos escutá-lo, vamos conhecer o seu pensamento. Se não o fizermos, podemos ir na direção contrária.

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