Nestes meses de janeiro e fevereiro, algo bonito e tocante aconteceu e ainda vai acontecer em nossa Diocese de Macapá. Em janeiro, tivemos os votos solenes de uma irmã das Carmelitas de Florença originária de Porto Grande. Em fevereiro, teremos a celebração de ação de graças pelos 50 anos de profissão religiosa de quatro irmãs, também desta terra, da Congregação das Irmãs de Caridade, mais conhecidas como de “Maria Menina”. Na semana seguinte, teremos os votos solenes de uma irmã do Mosteiro das Clarissas Capuchinhas. Apesar de alguma “publicidade”, devido também ao momento difícil da pandemia, talvez poucos tenham sabido ou estejam sabendo disso. Antes, porém, de refletirmos sobre esses acontecimentos, vamos lembrar o evangelho de Lucas do 5º Domingo do Tempo Comum. Pode nos ajudar a entender o compromisso de vida religiosa dessas nossas irmãs.
O evangelista nos apresenta Jesus ensinando “as multidões”. Por enquanto, nada sabemos sobre o ensinamento dele. Algo saberemos nos próximos domingos. O que interessa, agora, é entendermos a novidade surpreendente daquela palavra capaz de transformar a vida das pessoas. “Quando acabou de falar”, Jesus pede a Pedro que avance para águas mais profundas e jogue as redes para pescar. É uma ordem ou só um convite? Pedro, pescador experiente, teria motivos para se recusar, mas, após tantos ensinamentos, entende que aquela palavra é especial, é para ele, é um chamado pessoal. Por isso, responde: “…em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5). O que parecia impossível aconteceu e, assim, a nossa atenção vai logo para a grande quantidade de peixes que apanharam. Na realidade, pensando um pouco, algo extraordinário já tinha acontecido antes: a disponibilidade de Pedro e companheiros de arriscar, confiando na “palavra” daquele homem de Nazaré. O “espanto” deles é grande, mas a força daquela palavra muda a vida daqueles pescadores, que ainda não sabem o que acontecerá e por quais caminhos o Mestre os conduzirá. O primeiro passo, porém, foi dado, a decisão principal foi tomada: “deixaram tudo e seguiram Jesus” (Lc 5,11).
O primeiro e grande chamado para todos é, sem dúvida alguma, a nossa própria vida. Nascemos e crescemos sonhando e imaginando. Todos queremos ser felizes. Para isso, recebemos tantos conselhos, orientações e convites. No entanto, logo percebemos que nem todos aqueles que vivem ao nosso redor estão satisfeitos com as próprias escolhas. Alguns ainda buscam, outros se conformaram ou estão revoltados com aquilo que chamam de “destino”. Todos os dias a vida nos cobra decisões, pequenas e grandes. Algumas, de fato, norteiam todas as restantes, também quando, aparentemente, não decidimos nada. Toda escolha é sempre difícil porque ninguém pode viver a nossa vida. É somente nossa e cabe a cada um escolher o rumo que ela vai tomar. Sobretudo quando decidimos em quem confiar. Apesar dos novos tempos em que vivemos com todas as suas novidades e contradições, quem escolhe a vida religiosa ou consagrada ainda repete, primeiro em seu coração e depois publicamente, as palavras de Pedro: “…em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Vocação e resposta são fruto de um diálogo íntimo com Jesus que também volta a dizer o que disse a Pedro: “Não tenhas medo!” (Lc 5,10). É um diálogo silencioso, de escuta e oração, mais do que de conversa e planejamento. De incertezas e de pequenos passos dados para vencê-las. Sempre o “sim” ao Senhor só pode ser dado “por causa de um grande amor” como cantamos por ocasião de uma dessas profissões solenes.
Penso, sobretudo, nas irmãs que agradecerão pelos 50 anos de vida consagrada. Deixaram tudo, doaram os melhores anos de suas vidas e, agora, olhando para trás, podem se perguntar se valeu a pena. A longa perseverança e a fidelidade delas àqueles primeiros votos são um testemunho de alegria verdadeira, séria e profunda, aquela alegria que somente o Senhor pode dar aos seus amigos e amigas. Resta-nos agradecer juntos, na certeza de que o Senhor sempre chama a segui-lo também na vida consagrada. Outras e outros jovens responderão “em atenção à palavra dele”? Depende também da alegria de cada um de nós em amar e servir a Deus e ao próximo, cada um com a sua única e pessoal vocação.