Artigo de dom Pedro: Crise alimentar, crise humanitária

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Reflexão para o 18º Domingo do Tempo Comum

Por Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

“Nenhuma região do planeta está isenta de uma possível crise alimentar bem próxima causada pela pandemia covid-19. A Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura (FAO) em conjunto com o Programa Alimentar Mundial (PAM) prepararam uma lista de ao menos 27 países que correm o risco da fome e, em alguns casos, já estão vendo o desgaste da insegurança alimentar experimentando um aumento considerável do número de pessoas levadas à fome extrema”. Isso revela o relatório das duas Agências da ONU apresentado à imprensa alguns dias atrás. Nos próximos meses, as previsões, para alguns países da Ásia, da América e da África, são das piores. Também porque alguns desses países já viviam uma crise alimentar grave antes da pandemia.

As causas são diversas: recessão econômica, instabilidade e insegurança, eventos climáticos extremos como seca ou inundações, pragas na agricultura. Como será o futuro? Quantos milhões de seres humanos morrerão pela fome? Quantas crianças não desenvolverão as suas capacidades por causa da desnutrição? O que acontecerá no Brasil?

No domingo do evangelho da “multiplicação” dos pães e dos peixes começo a minha reflexão com essas notícias. Não é uma historinha imaginária. É a duríssima realidade de milhões de seres humanos como nós, com as mesmas necessidades de alimento e de água. Com a mesma vontade de viver! Mas o que podemos fazer? Todos nós nos sentimos impotentes frente às dimensões da crise, no entanto a nossa consciência de cristãos e de pessoas “humanas” não pode nos deixar indiferentes. Se acreditamos, as palavras de Jesus podem nos ajudar a entender e, espero, também a agir.

A primeira palavra é “compaixão” (Mt 14,14). Ao sair do barco, Jesus vê o povo e se enche de compaixão. É o sentimento de quem abre o seu coração para deixar entrar o sofrimento dos outros. A dor alheia se torna também a nossa. Mexe conosco.

O contrário, evidentemente, é fechar os olhos, virar as costas e esquecer ou a desculpa de sempre: eu não sabia! São tantas as formas para calar a nossa sensibilidade. Curioso: choramos e torcemos para que o bem triunfe assistindo a filmes e telenovelas, mas estamos prontos a julgar um pobre como preguiçoso e vagabundo. Quando desistimos de ser “humanos”, deixamos também de sermos imagem e semelhança de um Deus que se revelou amoroso e compassivo.

A segunda palavra de Jesus é um verdadeiro desafio para os discípulos: – Dai-lhes vós mesmo de comer! (Mt 14,16). Eles só têm “cinco pães e dois peixes”. Pouco demais para a fome da multidão. Contudo, dá para começar. Talvez o segredo esteja nisto: ousar algo novo, algo que parece impossível. Arriscar a partilha, arriscar uma nova economia mundial. Ilusão? Papa Francisco sempre nos fala para sermos criativos, de abrir caminhos novos, de não esperarmos pelos outros. Não é possível que uma humanidade tão fecunda de tecnologia nas comunicações, nas armas letais, nos gastos enormes para shows espetaculares, não saiba o que fazer para resolver a fome no mundo. Estamos chegando em Marte, mas estamos “perdidos” ainda por aqui, no planeta Terra, porque estamos “perdendo” milhões de vidas humanas.

A terceira palavra de Jesus é: – Trazei-os aqui (Mt 14,18). Ele pede que confiem nele, que acreditem que o impossível pode acontecer com a compaixão e a partilha. Mas não só naquele momento, por causa daquela fome, mas sempre. Jesus nos pede para aprendermos com ele a vencer o medo de sermos mais fraternos e solidários. É por isso que o evangelista Mateus nos deixa perceber, antecipadamente, os gestos da Eucaristia, o que Jesus fará na despedida da Última Ceia. Esse é o “milagre” que não pode parar de acontecer: uma turma de discípulos que continua a manter viva a memória-presença de Jesus, reparte o Corpo e o Sangue dele, para construir uma humanidade “nova” de irmãos, sem ódio, sem ganância, sem fome. A Eucaristia não é só “comunhão” com Jesus sacramentado, é também comunhão com aquele Jesus que está com fome e que um dia vai nos dizer “foi a mim que o fizestes”.  

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