Artigo de Dom Pedro Conti: O aniversário

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Por Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

Era o dia do aniversário de Bete. Ela acordou radiante. Vestiu sua melhor roupa e foi tomar seu café da manhã, imaginando que, quando seu marido e filhos acordassem, iam todos dar-lhe os parabéns. Mas não foi o que aconteceu. Sua família acordou e todos estavam apressados. Mal lhe deram o bom-dia e saíram cada um para os seus afazeres. Bete ainda pensou que a surpresa viria a meio-dia, na hora do almoço, porém nada aconteceu. O marido ligou que ficaria no trabalho. Os filhos…só chegariam de tardezinha. Bete não perdeu a esperança.

Tinha certeza de que a surpresa viria na hora do jantar. Então haveria bolo, flores, cartões e abraços. O dia terminou como tantos outros e nada aconteceu. Bete foi para a cama sentindo-se esquecida. Naquele momento, ao analisar o que havia acontecido, ela percebeu que as coisas podiam ter sido diferentes se ela mesma tivesse providenciado seu bolo, flores e convidados ao invés de ficar esperando que os outros fizessem isso por ela.

Neste domingo, celebramos a Ascensão do Senhor. A apresentação deste evento, como o encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos, é aquela que mais chama a nossa atenção. No entanto, além da nossa imaginação e das diversas formas com as quais o Novo Testamento se expressa, o que devemos entender é a grande verdade da nossa fé. “Ascensão” significa elevação, alguém que “subiu” e/ou foi enaltecido. Quem? Jesus, o crucificado, o desprezado, o mesmo que morreu e “desceu” à mansão dos mortos. “A esse Jesus Deus ressuscitou…e agora, exaltado à direita de Deus… o constituiu Senhor e Cristo” (Atos 2,32-36).

No evangelho de João, Jesus ressuscitado diz a Maria Madalena: “Não me segures! Eu ainda não subi para junto do Pai, mas vai dizer aos meus irmãos, que eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Na carta aos Filipenses, encontramos isso com outras palavras ainda: “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu um Nome que está acima de todo nome…e toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor” (Fil 2, 9-11). Tudo isso nós declaramos no Credo: “ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”.

Por causa da nossa fé nós olhamos para “o céu”, não para ver ou estudar os planetas, mas para expressar, apesar das limitações da nossa linguagem, que esperamos estar um dia participando da própria vida divina, como Jesus prometeu. Estar “no céu”, portanto, é sinônimo de estar “com Deus”. Essa “vida plena” sempre será um presente exclusivo do Pai, um dom da sua misericórdia. Então, vamos aguardar passar o tempo da nossa vida para ver se depois, de alguma forma, seremos agraciados com a festa do céu?

Nada disso, a nossa espera pela “volta do Senhor” – que virá a julgar os vivos e os mortos – deve ser ativa, participativa, um testemunho luminoso da nossa fé na bondade de Deus. Sobre isso os “dois homens vestidos de branco” questionam os apóstolos: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? (Atos 1,11). “Então os apóstolos voltaram para Jerusalém…”. “Voltaram”, sim, para a cidade onde Jesus tinha sido crucificado, mas agora com a certeza de ter uma missão a cumprir: ser “testemunhas” da novidade da Páscoa “até os confins da terra”. Uma missão que nunca vai acabar, não porque o nosso planeta aumente de tamanho, mas porque sempre chegarão novas gerações, novas culturas, novas situações a serem iluminadas pelo Evangelho de Jesus.

Quais situações de maneira especial? É sempre Jesus o nosso mestre. Ele foi “exaltado” porque teve a capacidade de “descer”, na morte. Mas antes também “desceu” no desprezo da cruz, contado entre os malfeitores, condenado por aqueles que já o tinham julgado infrator da Lei, amigo das prostitutas e dos cobradores de impostos. Amigo dos “errados”, em poucas palavras. Se ainda não entendemos, “subiremos” somente se tivermos a capacidade de “descer”, por amor, junto àquela humanidade que parece ter perdido todas as chances e toda a esperança. Sejamos nós a preparar o bolo e as flores e a convidar quem está lá, no fundo. A festa não passará em branco e o céu começará aqui.

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