Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Quando escrevo estas palavras ainda não sabemos como será a Semana Santa que iniciamos com o Domingo de Ramos. Talvez tenhamos a possibilidade de realizar as celebrações previstas pela Liturgia, ao menos do Tríduo Pascal, nas Igrejas, com poucas pessoas, distantes entre si, ou nem isso. Talvez, por precaução e segurança, tenhamos que ficar em casa, esperando dias melhores. Por tudo isso e sem saber o que nos aguarda, posso afirmar, com certeza, que será uma Semana Santa “diferente”.
Em primeiro lugar, porque muitas perguntas e novos sentimentos se ajuntam em nossas cabeças e em nossos corações. As previsões são sombrias, para alguns até catastróficas. Muitos acham que a humanidade, depois que essa tempestade passar, será diferente. Concordo, mas será melhor ou pior? Por melhor entendo uma humanidade mais solidária e fraterna consciente que as nossas divisões e fronteiras podem ser defendidas com muros, cercas, armas, leis e impostos, mas na realidade somos mais família humana do que pensamos. O vírus se espalhando provou que todas essas defensivas servem para pouco ou nada. Essas barreiras funcionam para as mercadorias, os migrantes, os que fogem das guerras inúteis, para povos inteiros deslocados das suas terras, mas não para um inimigo quase invisível. Pode ser, porém, que acordamos, um dia, piores. Preocupados com a nossa sobrevivência, com a falência das empresas, com os negócios parados e os lucros sumindo; pode ser que tenhamos medo uns dos outros, como se todos fossem inimigos e nos roubassem algo que nos pertence. Será que iniciaremos grandes ou pequenas guerras pela água, pelo chão, pelos remédios capazes de nos proteger no futuro de novos vírus letais? Se assim acontecer esta pobre humanidade estará perdida.
Eu espero e acredito que teremos aprendido a unir mais as forças. Países de lados diferentes, com interesses e políticas opostas, não negaram ajuda a quem precisava. A quem especula complôs internacionais e disputas pelo controle do planeta, respondem os milhares de voluntários prontos a ajudar, arriscando as próprias vidas. Quantos aplausos e sinais de gratidão já ganharam os médicos e todo o pessoal dos hospitais? Muitos deles já pagaram com a vida o seu desprendimento. Sem contar todos aqueles e aquelas que acolheram desabrigados e moradores de rua, todos os que prepararam e distribuíram alimentos para a sobrevivência de quem não podia parar de trabalhar ou não tinha mais nenhum recurso financeiro. Saber que fábricas de automóveis se transformaram em fábricas de respiradores para atender às urgências dos doentes graves, é um sinal confortante. É verdade que alguns estão assaltando pedestres nas ruas desertas, outros querem lucrar acima do lícito vendendo máscaras protetivas, álcool em gel, alimentos, remédios e tudo o que, na falta, costuma ficar mais caro. Sempre haverá aproveitadores, como também profetas de desgraça. O caminho do bem é longo e difícil.
Eu quero ser testemunha da esperança, como Papa Francisco a nos repetir as palavras de Jesus, “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé”? Creio sim, na bondade de Deus, na sua paternidade e misericórdia. Não estamos sozinhos nesta luta. No entanto, devemos acreditar também em nós, na força do povo que descobre o seu potencial de generosidade e partilha. Quantos gestos de fraternidade e esperança nos surpreendem todo dia, talvez vindo de pessoas que tínhamos julgado insensíveis, gananciosas ou superficiais. Na Semana Santa que iniciamos, acompanharemos, mais uma vez, Nosso Senhor Jesus Cristo, no caminho do Calvário. Assim ele quis partilhar a condição humana, fraca e mortal. Deu-nos o exemplo, ensinou-nos a oferecer tudo, a não poupar nem a própria vida, para que outros passam viver mais felizes. Ele fez tudo isso por amor. É sempre e somente o amor que doa vida, ampara e consola. É o amor que transforma até a morte em vida nova. Após o silêncio da Cruz, cantaremos o Aleluia da Ressurreição. Acreditemos e nós também seremos uma humanidade nova e melhor.