São Pedro e São Paulo, festa da Igreja
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
“Somente Deus pode dar a fé, mas você pode dar o seu testemunho.
Somente Deus pode dar a esperança, mas você pode oferecer confiança aos seus irmãos.
Somente Deus pode dar amor, mas você pode ensinar ao outro a amar.
Somente Deus pode dar a paz, mas você pode semear união.
Somente Deus pode dar força, mas você pode ser apoio para quem está desanimado.
Somente Deus é luz, mas você pode fazê-la brilhar aos olhos de todos.
Somente Deus é a vida, mas você pode fazer renascer nos outros a vontade de viver.
Somente Deus pode fazer o impossível, mas você pode fazer o possível.
Somente a Deus não falta nada, mas ele prefere contar com a sua ajuda.”
Essas são as palavras de um canto que encontrei por aí. Achei bonito e acredito que expressem o sentido da Solenidade de São Pedro e São Paulo, que celebramos neste domingo. Não festejamos somente dois santos, colunas da Igreja, ou o ministério e a missão do Papa, qualquer seja o nome daquele que ocupa o lugar de Pedro. Nesse dia, lembramos quem nós todos somos: uma comunidade convocada pelo Pai, enviada em missão pelo Filho e santificada pelo Espírito Santo. É a festa da Igreja toda. Nossa também. A explicação é simples.
A Igreja, ensina o Concílio Vaticano II, é um mistério porque é, ao mesmo tempo, obra divina e construção humana. Possui todos os recursos que a bondade de Deus oferece à humanidade para alcançar a Vida Nova oferecida aos que acreditam e aceitam seguir o Evangelho de Jesus, mas continua a caminhar na história com o peso das fragilidades e limitações humanas, que estamos acostumados a chamar de carne e pecado. Não somos anjos, e nem podemos ou devemos sê-lo. Somos seres humanos em carne e ossos, atarefados com os compromissos da organização de uma sociedade cada vez mais complexa. No entanto, como cristãos, temos os olhos fixos a uma meta: um projeto extraordinário de paz e fraternidade com todos e para todos. Saber e acreditar que somos todos “filhos e filhas” amados pelo Pai, salvos pelo sangue de Jesus, o Filho, e animados pelo Espírito Santo nos impele a sempre buscar caminhos de justiça e bondade, de partilha e solidariedade. A Igreja “católica” não tem projetos próprios de poder, riqueza ou superioridade. É chamada a ser algo de muito maior: “germe e início” do Reino (Lumen Gentium n.5) ou seja, ela existe, luta e sofre por causa do Reino de Deus e se alegra quando as pessoas em qualquer tempo, lugar, classe, raça ou nação, se entregam a este “sonho” de Deus. Os apóstolos Pedro e Paulo, por caminhos diferentes deixaram tudo por causa deste Reino. O pobre pescador da Galileia experimentou a alegria de reconhecer no homem Jesus o Cristo, mas também viveu a amargura do medo e da traição. As lágrimas lavaram o seu rosto e o seu coração e ao declarar o seu amor ao Mestre, recebeu dele a tarefa de apascentar o rebanho do Bom Pastor e confirmar os seus irmãos na fé. Em Roma, derramou seu sangue, dando assim o supremo testemunho de fidelidade ao Senhor. Paulo foi rigoroso nas convicções que tinha aprendido e cultivado desde a juventude. Foi determinado na perseguição dos primeiros cristãos, mas tudo isso caiu por terra quando se deixou alcançar por Jesus, apesar de nunca o ter encontrado neste mundo. Saiu perdedor no embate, mas feliz de servir àquele que, por amor, tinha derramado o seu sangue por ele. Suportou as consequências da sua má fama, aproveitou dos seus conhecimentos para anunciar com clareza o Evangelho de Jesus Cristo crucificado e glorioso. Após tantas viagens e pregações, após escrever tantas cartas aos amigos das comunidades que tinha fundado, coroou a sua vida com o martírio também em Roma, o centro do Império, naquele tempo. Não é possível ficar indiferentes ao exemplo de Pedro e de Paulo. As palavras deles ainda ecoam para nós, mas muito mais nos deve convencer o que fizeram. A nossa Igreja “católica” é também “apostólica”, porque começou com eles e neles ainda se apoia.