MACAPÁ (AP) – Homilia do bispo de Macapá dom Pedro José Conti durante a celebração da Solenidade de Corpus Christi 2019, na quadra da Paróquia São Benedito, bairro do Laguinho, Macapá.
Aprender as lições da Eucaristia
Celebramos esta Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. Daqui a pouco iremos em procissão também com a Eucaristia, sinal de louvor, mas é bom entender e lembrar que Jesus deixou a Eucaristia no sinal do Pão e do Vinho. Por isso, viemos aqui, afinal, como deve acontecer nas missas, para aprender. Em um canto, cantamos assim: “para aprender as lições da Eucaristia”.
Quais são as lições da Eucaristia? Jesus disse: “fazei isto em minha memória!”. Com a Eucaristia fazemos a memória da Páscoa de Jesus. Acabamos de celebrar o Tempo Pascal e o dia de Pentecostes também. A Páscoa de Jesus, a passagem da morte para a vida, a Sua vida doada, o Seu sangue derramado. Se nós refletirmos, Jesus entregou sua vida. Mas, não por que gostasse de sofrer. O sofrimento tem sentido, tem valor, quando produz vida, quando produz alegria.
Dom de Deus, trabalho humano
Precisamos entender: as vezes queremos somente a alegria. Alegria somente para nós e esquecemos a verdadeira alegria que estar também no custo desta alegria. Algum sacrifício, algum gesto de doação. Alguma entrega para que a alegria nossa e dos outros, que nos fazendo alegres, seja plena e feliz.
Eu vou lembrar isso rapidamente. Jesus escolheu sinais tão ricos de sentido usou palavras tão importantes que nós não podemos esquecer:
O Pão e o Vinho. Deixa contar! Jesus não escolheu a farinha do trigo e nem a uva, escolheu o pão – e como lembramos em todas – é sim, fruto da terra. Portanto, dom de Deus, mas também do trabalho humano. O mesmo a uva! Fruto da terra e dom de Deus, mas também do trabalho humano.
É bonito! O Senhor quer que nós participemos também dos sinais que Ele escolheu. E o pão, é fácil entender, representa sempre as necessidades básicas, fundamentais, para a vida. A comida representa o necessário para poder viver. Sem comida ninguém vive. Por isso, quando pensarmos no pão – e Jesus nos ensinou a pedir “dai-nos o Pão de todo o dia” – não é só para nós, é para todos.
Que vergonha uma humanidade de tanta tecnologia, com tantas riquezas, com tantos gastos até para explorar outros planetas e ainda milhões de nossos irmãos e irmãs, milhões de crianças passando fome ou morrendo de fome.
Tem alguma coisa errada no pão. Se queremos uma humanidade feliz podemos aprender a partilhar o pão. A começar pela nossa cidade. A começar pelas nossas famílias, a começar por nós mesmos. Não dá para sermos “obesos” e ter outros passando fome, passando necessidade.
Mas não é só necessidade do pão. Entendemos que são necessidades também na vida: a saúde, a educação, a convivência pacífica entre nós. Se acreditamos que isso serve, que isso é a nossa alegria, viver em paz, que a fraternidade … Qualquer sacrifício vale para que possamos experimentar a alegria da fraternidade.
É por isso que o sinal do vinho na bíblia sempre representou a alegria. A alegria é a festa. E nós sabemos disso na prática nas nossas festas também de nosso povo, o vinho também representa a alegria. Estão juntos ao celebrar algum acontecimento em nossas famílias e os convidados partilham também da alegria. E sabemos que quando a alegria é partilhada tudo se torna mais bonito, mais alegre, ninguém passa necessidade.
A página daquela distribuição do “quase nada”, cinco pães e dois peixes, todos comeram e ainda sobrou…
O vinho da alegria, o vinho da festa. Por isso, se queremos que a festa não seja somente para alguns… vemos, quando uma festa é somente para alguns, particular, não é para todos, não é a festa que Jesus gostaria de ver numa humanidade feliz.
“Meu Corpo, Meu Sangue”
Jesus nos disse mais: os sinais sim são “o pão e vinho”. Mas Ele falou, “isto é meu corpo, este é o meu sangue”. Corpo e o Sangue significam amor. Um corpo vivo pede o sangue para se curar, para dar a vida. Por isso Jesus nos deixou sinais que podem ser de vida …e de morte.
Que bom lembrar disso… nosso corpo se é vivo… se é morto. Só para entender: Passar desse mundo também para ri, para construir, para nos relacionar. Nós precisamos do nosso corpo para nos encontrar com os outros.
Como o Papa Francisco vem dizendo… usar das redes sociais… o encontro com as pessoas, nos olhar nos olhos, nos olhando como irmãos. É isso que muda, que faz a diferença. No encontro anônimo e no encontro de amigos que vivem em paz.
Nosso corpo precisa do encontro do abraço, do sorriso. Também importante da partilha. É isso o sangue derramado de Jesus que lembra o sacrifício, mas eu digo, sacrifício também, lembrava o sacrifício também de uma aliança, num encontro nada menos do que de Deus e o Seu povo. Mais vale o sangue, a vida doada, o sacrifício quando produz alegria. Quando produz vida. Eis, meus irmãos, as lições da eucaristia.
Devemos aprender em todas as missas. Não só agradecer, louvar, contemplar… e hoje também andar em procissão. É bonito que o povo, os outros olhem para os católicos vejam a nossa fé com simplicidade, sejamos muitos ou que sejamos poucos, não interessa. Importante que não tenhamos vergonha da nossa fé. Vamos fazer isso!
Páscoa, passagem
A Eucaristia sempre nos lembra que devemos fazer algumas “passagens”, a páscoa na nossa vida, se não, fica uma cerimônia bonita, algo bem organizado, emocional talvez, mas o que é vou levar dessa vida? Deve acontecer alguma “passagem”… deixo isso como ensinamento, reflexão para nossa vida.
Se queremos aprender lições da eucaristia precisamos passar da indiferença para a sensibilidade, a atenção aos outros, talvez das desuniões, das brigas à comunhão, à busca da fraternidade. Vê o sofrimento também . Tantas pessoas que sofrem, tantas pessoas sofrem sozinhas. Penso que sejamos a fraternidade, a consolação também do outro. Fazer esta “passagem” para que não sigamos fechados em nossa dor, em nosso sofrimento, em nossas dificuldades. Partilhar com os outros também as esperanças. Passar do sofrimento à esperança, novo projeto de vida, projeto de amor que o Senhor nos deixou.
As lições a Eucaristia sempre nos oferece. Continuamos meditando, refletindo, cantando, rezando, e sobretudo, Jesus disse “tomai e comei, tomais e bebei”, por isso, não contemplamos somente a Eucaristia. Nós celebramos a Eucaristia… “Tomais e comei, tomais e bebei… isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue, não tenha medo aceitem o meu divino”. Sempre aprendemos isso olhando para Jesus, como ele sobe no altar, como ele soube dar tudo, sua vida, seu sangue, o seu amor. Esta é a nossa fé.
Transcrição e edição pela Pascom – Diocese de Macapá