A jabuticabeira

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                Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

 

Um senhor, já de idade avançada, estava cuidando de uma plantinha no jardim da sua casa. De repente chegou um dos seus vizinhos com o qual tinha familiaridade. Era um jovem de 20 anos. Aproximou-se dele e perguntou:

 – Que planta é esta que o senhor está cultivando?

 – É uma jabuticabeira – respondeu.

 – E quanto tempo demora para dar frutos? – continuou o jovem.

 – Mais ou menos quinze anos – respondeu o homem. Com um sorriso sarcástico no rosto, o jovem provocou:

 – E você espera viver tanto tempo assim?

 – Não, não espero viver tanto. Já estou perto do fim da minha vida.

 – E então, por que está fazendo isso? Que vantagem você terá? – insistiu o jovem.

 – Nenhuma. O que me deixa feliz é que as pessoas vão continuar a comer jabuticabas, assim como eu como, sem saber quem cuidou das plantas onde as colho.

Após ter respondido às duras acusações dos adversários, no evangelho de Marcos deste domingo, Jesus inicia a falar do “reino de Deus” e o faz com parábolas, ou seja, com casos, semelhanças e comparações. Lemos: “Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas, conforme eles podiam compreender” (Mc 4,33) e logo em seguida o evangelho diz que “quando estava sozinho com os discípulos, expl icava tudo” (Mc 4,34). Dessa maneira, entendemos que é possível compreender o sentido da Palavra de Deus em si e, também, como isso acontece. Com efeito, a Palavra vai se clareando com certa gradualidade, aos poucos, dentro de nós, ao longo do caminho da fé.

Voltando ao assunto do “reino de Deus” explicado em parábolas. Ele é tão grande, bonito, surpreendente, dinâmico, que não cabe em nenhuma definição. O ‘reino” começa pequeno, como qualquer semente, mas é algo que cresce, envolve a natureza (plantas e pássaros), as pessoas (a colheita) e, assim, alimenta a todos! Como a semente, o “reino” tem uma força e um desenvolvimento própr ios: germina e cresce. “Primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga” (Mc 4,28). O agricultor não sabe como tudo isso acontece, é a terra que o faz por si mesma. Tudo é dom! Verdade, mas entram também a colaboração, a criatividade, a iniciativa e o esforço humano! Sempre rezamos nas Missas, no momento do Ofertório: “Bendito sejas Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano”. Terra e trabalho, são dois dos “Ts” do Papa Francisco; o terceiro T é o de “teto, a casa!” para que toda pessoa possa viver com liberdade e dignidade.

 É justamente essa consciência de não ser donos, mas colaboradores de uma grande obra, o “reino de Deus”, que faz a diferença em tudo. Deus, através da natureza e a presença generosa do Espírito Santo, está sempre pronto a fazer a sua parte, no entanto ele quer a nossa colaboração na administração dos bens que nos entregou. Precisamos acreditar mais na bondade do projeto do “reino”. Q uando tiramos “Deus” do meio, o “projeto” fica somente nosso. Nos enchemos de orgulho, egoísmo, ganância e corrupção. Mas quando acolhemos o sentido maior do “reino de Deus” trabalhamos, suamos, sofremos, caímos e levantamos, mas pela justiça, a paz, a fraternidade, o bem de todos e não somente o nosso ou de alguns poucos privilegiados. Esse é o equívoco de sempre. Confundir o “reino de Deus” com o “nosso” poder e domínio. Também Jesus precisou explicar isso muitas vezes aos apóstolos, sobretudo quando, ainda, disputavam os primeiros lugares entre si.

 

Tudo isso Jesus ensinava em “parábolas”. Explicava sim, mas deixava também imaginar as consequências. Falava, mas deixava entender, com liberdade, para que cada um fizesse a sua parte conforme as suas possibilidades e capacidades. Algumas parábolas não têm final, outras conduzem a mais interrogações que a respostas já prontas.   Às vezes o Senhor nos dá a graça de ver os frutos do nosso trabalho e de participar da colheita. Na maiori a das vezes, outros colherão e desfrutarão dele. O que vale é mesmo a felicidade de ter colaborado com o Projeto de Deus. Os frutos da Palavra são certos e sempre gostosos. Mas, claro, com os tempos de Deus.

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