Quero me divorciar
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Uma senhora foi ter com um consultor muito famoso pela sua experiência em causas matrimoniais.
– Quero me divorciar e quero fazer o maior mal possível a meu marido – disse a mulher.
– Então, comece a elogiá-lo de todas as formas – sugeriu o consultor – Quando ficar indispensável para ele, quando ele pensar que o ama e o estima muito, aí sim, estará na hora de dar início à ação legal. Essa é a maneira mais segura para feri-lo o mais possível.
Alguns meses depois, aquela senhora voltou para dizer ao consultor que tinha seguido todos os seus conselhos.
– Muito bem! – disse o homem – agora chegou o momento de iniciar as práticas do divórcio.
– Divorciar? – respondeu a mulher com decisão – Não estou mais pensando nisso. Acabei me apaixonando por meu marido!
Após a primeira disputa de Jesus com os seus adversários sobre o assunto da observância da Lei do sábado, encontramos, no evangelho deste domingo, a segunda grande acusação contra ele. A questão agora é de onde vem o poder com o qual Jesus cura os doentes e expulsa os demônios? Mais uma vez, são os mestres da lei que buscam motivos para desmoralizar o Mestre e fazer que o povo não o procure mais. Excluindo qualquer intervenção divina, eles admitem só uma explicação: Jesus está possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios. Também os parentes dele entram na conversa e querem agarrá-lo. Fizeram isso talvez para protegê-lo e resguardá-lo da multidão, que não lhe deixava mais tempo nem para se alimentar. Ou, mais simplesmente, porque queriam controlar e, quem sabe, explorar os poderes dele. No entanto o povo humilde e doente não desiste, continua a se reunir e não precisa de grandes investigações. O que vale é a intuição dos pobres, que percebem em Jesus a manifestação de uma força boa que cura corpos e espíritos. Uma força ainda misteriosa, mas, certamente, superior a todas as razões e conversas complicadas dos intelectuais e poderosos. Na prática, a explicação que Jesus dá aos adversários sobre o seu agir segue a lógica mais simples da sabedoria popular: é a união que faz a força, nunca a divisão! Qualquer reino dividido, sucumbe! Por isso, a estratégia de todo poder sempre foi, e será, aquela de dividir o povo, de colocar uns contra outros. É mais fácil derrotar um inimigo por vez que tentar vencê-los todos juntos.
Nessa altura, o evangelista Marcos coloca o pecado contra o Espírito Santo, uma culpa tão grave a ponto de ser imperdoável. Com efeito, a força que motiva e sustenta Jesus no seu agir bondoso é justamente do Espírito Santo. Recusar esta força corresponde a negar a missão e a pessoa divina de Jesus. Fica difícil para Deus perdoar quem não acredita e não confia nele, quem prefere apelar a Belzebu – ou a qualquer outra coisa – em lugar de reconhecer a misericórdia do Pai. Dito isso, entendemos também a resposta de Jesus sobre a sua família. Somente quem se dispõe a fazer a vontade de Deus, ou seja, a amar, perdoar e fazer o bem, pode ser considerado familiar, íntimo de Deus. É justamente quando ama que o ser humano revela a sua natureza divina, o seu ser imagem e semelhança de um Deus-Amor.
Ainda hoje, alguns cultuam Satanás e outros o chamam demais para explicar os mais simples contratempos da vida. Se algo dá errado, será que temos que incomodar o príncipe dos demônios ou achar que ele se mete em tudo? Não seria melhor invocar o Nome do Senhor e confiar mais na bondade dele? Devemos aprender a reconhecer os nossos erros e os nossos pecados. Somente assim pediremos a Deus a graça da conversão, em lugar de jogar as culpas sobre o demônio e pensar de sermos melhores daquilo que somos na realidade. Como cristãos, devemos acreditar que é possível transformar o mal em bem, as lágrimas em sorrisos e a tristeza em esperança. Na Igreja também, a união fraterna é uma força invencível para superar divisões, invejas e disputas. Em lugar de nos “divorciarmos” das nossas comunidades, vamos aprender a elogiar o bem e as qualidades dos irmãos e das irmãs. Esse foi o conselho do consultor matrimonial. Esperamos que aconteça, também, a nós de nos apaixonarmos de novo pela nossa Igreja-família.