Depois de uma longa ausência, finalmente o amado mestre voltou para a sua vila. Todos o acolheram com alegria e ele quis que logo fosse celebrada a Festa dos Dons. Muitas pessoas chegaram também dos vilarejos vizinhos trazendo os seus presentes. Todos estavam ansiosos para ouvir os ensinamentos do mestre. Ele mandou colocar os dons no chão, bem no meio do templo, e pediu que o povo se sentasse todo ao redor. Depois entrou no círculo. Pegou os dons, um a um, e devolveu aos respectivos doadores, os que tinham um nome; depois falou:
– Os outros presentes são aceitos!
Continuando o mestre disse
– Vocês todos vieram para receber uma palavra. Pois bem, eis o meu ensinamento: aprendam a distinguir uma atitude inferior de uma superior. O agir inferior – que se ensina às crianças e é necessário para a formação delas – é experimentar alegria em dar e em receber. O agir superior é dar sem criar nenhuma obrigação para quem recebeu o nosso dom. Aprendam a se desprender das pequenas satisfações, como aquelas que lhes vêm do pensamento de ter feito uma boa ação. Empenhem-se a buscar a meta mais elevada: a de fazer sempre o bem por si mesmo, sem esperar em nenhuma recompensa.
Estamos chegando perto da festa do Natal de Jesus. No último domingo de Advento, contemplamos o encontro entre Maria e Isabel. A idosa, considerada estéril, está para dar à luz o filho e a virgem está grávida pela graça de Deus. Nada é impossível para Ele! Não sabemos se Maria levou algum presente para Isabel. Nem precisava. O grande dom que as duas trocaram entre si, com muita alegria, foi a simples constatação do comprimento das promessas do Senhor. Foi o que Isabel disse a Maria: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.
Poucas vezes pensamos que a fé seja um dom que recebemos e podemos oferecer aos outros com o exemplo de nossas vidas. Nem todos aqueles que irão falar do Natal, saberão dizer o porquê da alegria dos cristãos. Somente se aceitarmos ser mais uma vez surpreendidos pela novidade do amor de Deus, podemos iniciar o caminho fadigoso, mas compensador, da fé.
Ao imaginar o Menino deitado no presépio, não devemos sentir somente ternura, devemos adorá-lo como o maior dom que Deus podia nos fazer: Ele mesmo, no meio de nós, pequeno, humilde escondido; sem querer se impor de qualquer jeito, mas oferecendo-se, como um presente para quem queira ainda abraçá-lo, amá-lo e segui-lo.
Sempre nos perguntamos, no entanto, se nós cristãos podemos, por nossa vez e de que forma, oferecer o dom da fé aos nossos irmãos, num mundo que parece cada vez menos interessado em receber este presente ou, infelizmente, sempre pronto a transformá-lo num novo e lucrativo comércio. Não podemos impor a fé, nem nos substituir à escolha de cada um. A fé será sempre, em primeiro lugar, um dom do próprio Deus e uma obra maravilhosa do Espírito Santo. Podemos, porém, seguir o mesmo caminho de Jesus: oferecer este dom com absoluta gratuidade sem pedir nada em troca, simplesmente vivendo a alegria de sermos cristãos, de fazer parte dos amigos de Jesus, os amados que sabem amar.
O primeiro passo que, sem dúvida alguma, abre a porta da fé – também a quem ainda duvida – é o exemplo de uma decisão sábia, coerente e humilde de amar, de ser amigos e solidários, sem pedir nada em troca, como Maria e Isabel, como o próprio Filho de Deus no seu Natal, que se oferece, na pobreza e no silêncio.
Numa sociedade na qual todos nós vivemos com o medo de sermos enganados, estamos desconfiando até do amor de Deus. Afinal, o que Ele está querendo de nós? Nada, se pensarmos em lucros humanos; tudo, se entendermos a possibilidade inestimável de aprender a segui-lo no caminho do amor.
Neste Natal, ofereçamos como dom aos nossos amigos verdadeiros o testemunho simples e singelo da nossa fé. Nem precisa colocar o nosso nome no embrulho do presente, serão suficientes o nosso sorriso e o nosso abraço. Pensando bem, não vai ter embrulho, bastará desejar a todos um Feliz Natal… <em>de Jesus</em> e oferecer-lhes a coerência luminosa de nossa vida cristã.