Artigo de dom Pedro Conti: A decisão

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Reflexão para o 26º domingo do tempo comum

 | Por dom Pedro José Conti – bispo de Macapá

Um agricultor contratou um homem para uma diária de trabalho e lhe entregou um monte de tocos de madeira para cortar em pedaços e arrumar. Em poucas horas, os tocos estavam todos cortados e empilhados. No dia seguinte, o camponês disse ao homem para separar as batatas:

  • Coloque as grandes num canto, as médias num outro e as pequenas também separadas. Passou um bom tempo, e o trabalhador só ficava olhando as batatas e não iniciava o trabalho. O agricultor foi lá para pedir uma explicação. O homem, confuso, respondeu:
  • É tomar a decisão que me faz perder a cabeça.

Para entender a curta parábola dos dois filhos, que encontramos no Evangelho deste domingo, precisamos lembrar o que está em jogo. Depois da entrada de Jesus em Jerusalém, o evangelista Mateus nos apresenta um gesto dele muito forte: a expulsão dos vendilhões do Templo (Mt 21,12-13). Com seus gestos e palavras, Jesus, polemiza com aquelas autoridades religiosas que se achavam donas da verdade. Chega a chamá-los de “hipócritas”! (Mt 23,13ss). Daí para frente, as discussões com os seus adversários se tornam mais acirradas.

Os sumos sacerdotes e os anciãos querem saber com qual autoridade Jesus fez o que fez. Para responder ele coloca uma condição: antes sejam eles a dizer se o batismo com o qual João batizava vinha de Deus ou dos homens. Eles dizem:

  • Não sabemos. Assim também Jesus não responde à pergunta deles, mas não deixa cair o assunto, ao contrário, alimenta a polêmica. Conta um caso, como ele sabia magistralmente fazer. Os dois filhos da parábola são um exemplo claro daquelas pessoas que falam de um jeito, mas depois agem de outro. Ao pedido do pai para ir trabalhar na vinha o primeiro filho responde que não queria ir, mas depois muda de opinião e foi. O segundo filho parece tão obediente na resposta, mas depois não foi trabalhar. Jesus pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” (Mt 21,31). Os ouvintes não podem negar: foi o primeiro, apesar da inicial resposta negativa. Após isso, Jesus faz uma afirmação extremamente escandalosa para os gostos daqueles questionadores: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”.

A explicação é simples: os pecadores acreditaram em João e fizeram penitência, mas eles, as autoridades, os chefes, não. É evidente, também se indiretamente, que Jesus está falando dele mesmo, do jeito dele de agir. Com efeito, ele é continuamente acusado de dar atenção e acolher pessoas mal-afamadas. Não adiantou repetir, desde o início da sua pregação, que ele veio para aqueles que se consideram doentes e, portanto, precisam do médico (Mt 9,11-13). Aqueles que se achavam perfeitos continuavam a recusar qualquer convite à conversão. Assim não deram ouvido à pregação do Batista e, agora, criticam o perdão que Jesus oferece aos pecadores revelando a misericórdia do Pai. Para os que se consideram “justos” e só vê erros nos outros, o único remédio é a punição e a exclusão, nunca o perdão e a reconciliação. Jesus nos ensina o contrário.

Mais uma vez somos convidados a sermos coerentes com a nossa fé. “Trabalhar na vinha do Senhor” é testemunhar o seu Reino com a nossa vida. Discursos bonitos não adiantam, só enganam ou disfarçam a nossa hipocrisia. Podemos ser mestres nas palavras, mas, afinal, o que vale é a decisão de seguir o Senhor com alegria e perseverança. Todos podem fazer isso, também se depois de uma vida, talvez, errada ou sem rumo. Nunca é tarde para mudar. Jesus não veio para “julgar” e separar os bons dos maus, neste mundo (Jo 3,17), mas para “salvar”, ou seja, dar uma nova chance a quem se considera ou está sendo considerado perdido. Nenhum filho ou filha deve pensar desmerecer a misericórdia do Pai. Jesus pagou com a sua vida o seu choque com os intolerantes que usavam o nome de Deus para condenar e não para corrigir fraternalmente e perdoar.

A grande decisão, para cada um de nós que queira seguir o Mestre, é a de aprendermos a ser mais humildes, a nos considerarmos todos e sempre num caminho de conversão. O primeiro “trabalho” na vinha do Senhor para produzir bons frutos é conosco mesmo.
 

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