Artigo de dom Pedro Conti: Não faltava nem um centavo

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Reflexão para o 24º Domingo do Tempo Comum

|Por Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Ezequiel era um rapazinho de 10 anos. Vez por outra, ele roubava. A professora descobriu tudo, mas não o repreendeu e nem disse aos demais alunos da turma que ele era perigoso e dava mau exemplo. Em vez disso, entregou para ele a carteira dela e lhe pediu o favor de ir ao mercado para fazer umas compras porque ela estava muito ocupada.

Ezequiel foi à feira e voltou com duas sacolas cheias de mercadorias. Devolveu a carteira à professora. A conta do dinheiro estava certa, não faltava nem um centavo. A professora tinha demostrado confiança ao jovem e ele tinha correspondido honestamente.

Existem muitas maneiras de corrigir e, sobretudo, perdoar. Talvez continuar a confiar, apesar dos deslizes, seja uma dessas.

No evangelho de Mateus deste domingo encontramos a famosa pergunta de Pedro: “Quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Como sempre, Jesus responde, mas, ao mesmo tempo, abre novas perspectivas, mudando o foco da questão. Não basta perdoar um número grande de vezes ou de qualquer jeito. O que vale é entender por que devemos fazê-lo sempre e, sobretudo, com o coração muito agradecido.

Por isso, Jesus conta a parábola dos dois devedores. Não o faz para fixar um limite ao perdão, como se, depois de algumas vezes, pudéssemos deixar de perdoar, mas para transformar o nosso gesto de perdão em louvor a Deus, Pai bondoso e sempre misericordioso. É com este Pai que devemos aprender como e porque perdoar.

Conforme a parábola, ambos os devedores suplicaram os respectivos credores com as mesmas atitudes e palavras: prostrados, invocaram mais um prazo prometendo pagar a dívida. No entanto, a quantia devida era absurdamente diferente: o primeiro devia “uma enorme fortuna”, o outro cem moedas. A “enorme fortuna” é a tradução para a versão litúrgica do Evangelho dos “dez mil talentos” correspondentes a 50 ou 60 milhões de “denários” que era a paga diária de um trabalhador. Enfim: uma quantia absolutamente impagável. Exagero por parte de Jesus? Sem dúvida, mas, justamente, para que entendamos a diferença entre as duas dívidas.

O segundo devedor somente devia cem moedas, cem “denários”, ou seja, cem dias de trabalho: uma dívida razoável, mas pagável e insignificante a respeito da “enorme fortuna” devida pelo outro. O “rei”, generoso demais, perdoou a dívida gigantesca do primeiro servo, mas o agraciado não quis perdoar a pequena dívida do seu colega. Os demais companheiros ficaram “muito tristes” e foram contar tudo ao rei-patrão. Foi fofoca? Pode ser, mas, talvez, foi, simplesmente, uma justa indignação com quem tinha sido tão favorecido e não soube partilhar a bênção recebida.

O ensinamento de Jesus é claro: somos todos pecadores e, portanto, todos devemos muito para os nossos irmãos que ofendemos ou deixamos de amar, que é o famoso pecado, raramente confessado, da omissão. É mais fácil lembrar e cobrar satisfação pelas ofensas dos outros a nosso respeito que reconhecer as nossas próprias faltas.

E com Deus? Quem pode cobrar dele? Quem está devendo a quem? Bastaria parar um pouco para refletir e chegar à simples conclusão de que tudo o que somos e temos foi quase que um “empréstimo” do qual teremos que prestar conta. Em lugar de fazer comparações e questionar a generosidade do Pai celeste, deveríamos aprender com ele a sermos mais compassivos e misericordiosos entre nós.

Para a nossa vantagem exigimos ser julgados com largueza, mas medimos os nossos irmãos com insensibilidade e mesquinhez (Mt 7,1-2). Mais ainda, devemos fazer isso porque somos discípulos daquele Jesus que, sem pecado, do alto da cruz, pediu ao Pai que perdoasse aos que o estavam matando. Por ocasião do Ano Santo da Misericórdia, Papa Francisco escreveu: “Chegou de novo para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão…O perdão é uma força que ressuscita para uma nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança”.

Junto com a correção fraterna, o perdão é o risco que corremos para voltar a confiar uns nos outros. Como fez a professora com Ezequiel.  

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