Artigo de dom Pedro: Sempre atento na estrada

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Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

Uma jovem mulher queria tirar a carteira de motorista e se inscreveu numa autoescola. Certo dia, durante uma aula de direção prática, numa rua com muito trânsito, o instrutor disse baixinho no ouvido dela:

  • Ouvi bem? Você me chamou de “meu querido”?
  • Senhor! – gritou espantada a jovem se virando para o lado do homem. O instrutor, sorrindo, disse para ela continuar olhando para a rua. Depois acrescentou: – Não se preocupe. Faço isso com todos os alunos, para lhe ensinar uma lição: não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada. 

No 11º Domingo do Tempo Comum, retomamos a leitura do evangelho de Mateus. Depois do grande discurso do Monte (cap. 5-6 e 7), o evangelista apresenta as “obras” do Messias, sobretudo as curas e a tempestade acalmada. No entanto Jesus não deixa de chamar pessoas a segui-lo, como faz com Mateus, o cobrador de impostos. É, porém, na página deste domingo que Jesus escolhe os “12”. Os nomes deles estão aí, para sempre, com as suas diversidades, dúvidas e medos, como veremos no próximo domingo. Era comum, naquele tempo, e hoje também, com as devidas diferenças, que um “mestre” tivesse ao seu redor discípulos dispostos a aprender com ele. “Seguidores” de verdade, prontos a partilhar a vida dele, não meros amigos virtuais, cada um sentados no sofá da sua casa, como acontece em nossos dias. Eles tinham deixado família e trabalho para segui-lo.

Essa tinha sido uma primeira virada na vida deles. Agora Jesus os envia em missão com algumas recomendações claras, inovadoras e muitos desafios. Antes, porém, o evangelista coloca novamente Jesus “vendo” as multidões. Na primeira vez, depois de “ver” as multidões, ele tinha oferecido o seu ensinamento (Mt 5,1-2). Dessa vez, o seu coração se enche de compaixão pelo povo cansado e abatido, parecendo “ovelhas que não têm pastor”. Ou, numa outra comparação, um campo pronto para a colheita, mas largado por falta de trabalhadores. Jesus convida a rezar, a pedir ajuda ao “dono da messe” e, ele mesmo, começa a escolher e a enviar os operários.
Com isso, entendemos que a Igreja é missionária por constituição. O dia que deixasse de evangelizar, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Mas, atenção, junto com a ação vai também a oração, porque sem a força e a luz do Espírito Santo a missão se tornaria propaganda. Ela não é o resultado de um planejamento ou de um esforço de vontade nossa, como diz Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões do próximo mês de outubro: “É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma”.

Tudo isso, porém, não significa que a obra, nunca acabada, do anúncio do Evangelho seja algo improvisado, sem rumo, sem meta e sem conteúdo. Não. Jesus, é claro. Tem que começar pelas “ovelhas perdidas da casa de Israel”, o povo eleito. Depois virão também os samaritanos e os pagãos, como os apóstolos fizeram. Fundamental, contudo, é a mensagem que devem comunicar: “O Reino de Deus está próximo”. Deus não está longe, está aqui no meio da humanidade, deixa-se encontrar, porque fala, cura, doa vida nova, salva e liberta por meio do seu Filho Jesus. Por fim, um sinal inequivocável para reconhecer a autêntica ação evangelizadora: a gratuidade. A missão não é um “negócio”. Quem reconhece ter sido alcançado “de graça”, sem merecimento algum, pelo amor de Deus, por puro dom da sua bondade, deve também partilhar generosamente este bem tão precioso com quem o quiser acolher.

Esse é o “foco” da missão da Igreja: fazer saber à uma humanidade confusa e atraída por infinitas propostas de felicidade que o caminho para dar um sentido grande à vida é o seguimento de Jesus Cristo. Com ele, aprendemos a confiar no único “mandamento” que é o verdadeiro bem ao nosso alcance e que ninguém pode nos roubar: o amor doado que nos faz felizes alegrando os outros. O cristão é como um motorista que está dirigindo. Não pode se deixar distrair por qualquer conversa ao seu redor. O seu olhar deve ficar sempre atento na estrada. Jesus é, ao mesmo tempo, o caminho e a meta da viagem. Vamos lembrar.

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