Artigo de Dom Pedro

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A medida do amor

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

O mestre e os seus discípulos andavam caminhando tranquilamente em direção ao mosteiro. Um deles perguntou:

– Mestre, será que algum dia eu serei capaz de amar com tanta intensidade quanto o senhor ama? O mestre respondeu:

– O amor é a maior riqueza do mundo. Não existe nada comparável a ele. É ele que mantém o mundo girando, as pessoas se encontrando, a natura crescendo. Mas o discípulo insistiu:

– Como saberei se o meu amor é digno de tudo isso e se é grande o suficiente? – O mestre falou:

– Procura saber se tu vives intensamente as emoções, se te entregas ou foges delas. O amor não é grande nem pequeno, não te preocupes com isso. Ele simplesmente é o amor, natural, espontâneo. Não se pode medir um sentimento como se mede uma estrada. Não dá para segurá-lo ou prendê-lo em algum lugar. Ele deve permanecer livre. Se tentares medi-lo, estarás vendo apenas os seus reflexos, como a lua em um lago, ou o sol no mar. O amor deve simplesmente ser vivido.

A página do evangelho de Lucas deste 8º Domingo do Tempo Comum é um conjunto de palavras de Jesus recolhidas e guardadas pelos discípulos e depois transmitidas através da comunicação oral antes de serem escritas. Também não devemos esquecer as situações reais e a convivência entre os cristãos daquelas primeiras comunidades. As pequenas parábolas e as palavras de sabedoria que as ligam deviam servir para corrigir e animar os irmãos daquele tempo e os que viriam depois, ou seja, nós mesmos, discípulos de Jesus nos dias de hoje. Começamos pela imagem dos dois cegos, um querendo guiar o outro. Vão cair no buraco. Assim acontece com aqueles que querem corrigir os defeitos dos outros, com a pretensão de serem melhores, de enxergar mais longe, de ter alguma luz ou revelação particular. É sempre muito mais fácil criticar os outros que admitir as nossas falhas. Jesus chama essas pessoas de hipócritas, falsas, porque querem melhorar os outros, mas não se empenham a corrigir a si mesmo. Na linguagem de Jesus, eles não se incomodam com a trave que têm no seu próprio olho, mas gritam de horror com o cisco no olho do irmão. As críticas, ou melhor, a correção fraterna funciona se nós também trabalhamos para aprimorar a nossa conduta de cristãos. Deveríamos disputar para ser os primeiros a nos converter e a mudar o que for necessário para seguir Jesus com mais compromisso e perseverança.

As outras duas pequenas parábolas são diferentes, mas nos conduzem à mesma conclusão. A árvore boa só pode produzir frutos bons. O homem bom, também, tem guardadas coisas boas no bom tesouro do seu coração. A árvore ruim, o espinheiro, só produz espinhos, nunca vai produzir uva doce e gostosa. Assim, o homem mau só tem maldade no coração. Ele nunca vai oferecer coisas boas, porque não tem de onde buscá-las. A última lição de Jesus é uma afirmação sobre o que sai da nossa boca. As nossas palavras seguem os nossos pensamentos: somente falamos daquilo que transborda do nosso coração, pelo bem ou pelo mal. Todos nós nos enchemos com muitas coisas e elas, com certeza, saem para fora. Tudo depende com que bagulho ou mercadoria alimentamos os nossos pensamentos e o nosso coração. Nada de espantoso. Basta reconhecer a superficialidade de tantas conversas e banalidades com as quais nos fartamos. Bobagens e fofocas ganham espaço. Sobra pouco tempo para a reflexão, a avaliação sincera e a busca de respostas às grandes e intrigantes perguntas da vida. O perigo é que não saia mais nada de importante e valioso do nosso coração. Estamos vazios de valores, de esperanças, de referências confiáveis. Usamos o nome de Jesus, mas não guardamos as suas palavras como um tesouro precioso. Não falo de citações da Bíblia que basta decorar! Falo daquilo que deveria trasbordar de um coração de carne e não de pedra: a compaixão, o perdão, a alegria de fazer o bem, palavras de vida e nunca de morte, como Jesus. Dele diziam que nunca ninguém tinha falado assim (Jo 7,46). Era a abundância de amor do seu coração que falava. Sem medida.

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