Artigo de Dom Pedro Conti

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A semente rebelde

Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

No final de verão, quando os frutos nas árvores estavam maduros, as sementes ficavam nervosas e começavam a discutir animadamente entre elas sobre o seu futuro. Uma semente dizia:

– Daqui não saio, estou bem aqui. Não vou aventurar-me por caminhos que não conheço. Outra rebatia:

– Mas não percebes que se não saíres daqui e não caíres na terra, nunca serás uma árvore? O nosso destino não é ficar aqui como sementes, mas é multiplicar as forças que temos dentro de nós. Por fim, tomaram a decisão de se deixar cair por terra, perto da árvore a que pertenciam. Assim, podiam cumprir seu destino. Porém, uma daquelas semente recusou-se, não aceitou cair no mesmo lugar. Dizia para si:

– Por que eu deveria cair aqui, onde o sabor do fruto ao qual pertenço já é conhecido? Gostaria de cair num lugar onde o sabor não é conhecido, serei uma grande novidade! Assim pensando, esperou uma forte rajada de vento, deixou-se levar, indo muito além dos limites de onde nascera.

Uma historinha “missionária”, fácil de se entender e imaginar. No quinto domingo do Tempo Comum encontramos mais uma página exemplar do evangelho de Lucas. Jesus convida os primeiros discípulos a segui-lo. Eles deixam tudo; de agora em diante não pescarão mais peixes, serão “pescadores de homens”. O diálogo entre Jesus e Simão Pedro, parece tão pessoal que poderia nos alegrar, mas dizer pouco para o nosso compromisso de cristãos, digamos, em geral, com tantas vocações, serviços e profissões diferentes, na Igreja e pelo mundo afora, na sociedade. Conforme os evangelhos, entre os seguidores de Jesus, os apóstolos ocupam um lugar especial, formam o grupo dos “doze” e conhecemos os seus nomes. Isso deve ficar claro, mas as palavras e o convite de Jesus de avançar para águas mais profundas e lançar as redes são dirigidos a todos. As diversas vocações são as diferentes formas de responder à sua grande convocação.

Devemos prestar atenção ao fato que antes do “convite”, Jesus ensina às multidões. Ou seja, ele não é um empresário que quer faturar com a fartura do peixe. Igualmente não é alguém que conhece algum truque de mágica para atrair os peixes e quer explorar aqueles pobres pescadores para tirar proveito. Nada disso. Jesus, antes de tudo, explica a sua missão. Todas as vezes que os evangelhos dizem que Jesus “ensinava”, mas não detalham o seu ensinamento, estão nos dizendo simplesmente que é ele mesmo que precisamos conhecer. Ensinar sempre é abrir a mente, os corações, fazer compreender, sonhar, imaginar, apontar horizontes. Quem encontra Jesus e começa a conhecê-lo, enxerga as coisas da vida de maneira diferente, aprende algo que antes nem imaginava, um “mistério” que é difícil dizer só com palavras, porque é grande demais. É o “mistério” de Deus. Conhecer a Jesus é começar a entrar, cada vez mais, na realidade divina. Isso significam as palavras “avança para águas mais profundas”. Jesus diz a cada um de nós: avança no caminho da fé, não fique só na margem, não tenha medo de querer conhecer mais as maravilhas de Deus. Confie, arrisque, acredite, jogue as redes. Algo novo, muito bom, vai acontecer. A mensagem de Lucas é clara e é para todos. A abundância do amor de Deus vai preencher a nossa vida e nem vamos dar conta de tanta alegria. Cristão que não quer conhecer mais a Jesus, que não arrisca nada por causa da sua fé, também não vai pescar nada. Quem ficar satisfeito com a própria mediocridade, continuará na noite. O convite para todos é de sermos cristãos corajosos, capazes de dar testemunho, de explicar as nossas escolhas, de defender a nossa fé com humildade, simplicidade e perseverança. E as vocações? Se a “fartura” é, afinal, a presença cada vez mais amorosa de Deus em nossas vidas, qualquer um, em qualquer lugar, em qualquer situação, pode e deve “avançar para águas mais profundas. Basta colocar mais bondade naquilo que fazemos, mais dedicação, mais generosidade e gratuidade. Longe ou perto, somos sementes, devemos dar a vida como o fez Jesus, para produzir bons frutos.

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