MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o 23º Domingo do Tempo Comum| 10 de setembro de 2023 – Ano “A”
Um rico senhor ofereceu mil rúpias a um pobre religioso indiano. Ele perguntou ao homem rico:
– Você está me dando mil rúpias. Quanto é que você tem para si mesmo?
– Muitos, muitos milhares de rúpias – foi a resposta.
– Você ainda deseja mais?
– Sim, certamente – respondeu o rico.
– Então, eu não posso receber a sua oferta – disse o religioso – porque um homem rico não deve receber de alguém mais pobre do que ele!
– Não estou entendendo – disse o homem rico. Então o pobre explicou:
– Muito embora eu não tenha nada, nada desejo. Você tem fartura e mesmo assim deseja ainda mais. Seguramente, o homem que ainda deseja é mais pobre do que o homem que está satisfeito com aquilo que tem!
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Com o evangelho deste 23º Domingo do Tempo Comum, iniciamos a leitura de alguns trechos do capítulo 18 do evangelho de Mateus, conhecido como “o sermão da comunidade”. É evidente que o autor desse evangelho foi lembrar o ensinamento de Jesus sobre a “correção fraterna” justamente porque preocupado com a situação da própria comunidade. Poderíamos nos perguntar: porque interessar-se pelos erros dos outros? Por que buscar sanar as divisões entre os irmãos? A resposta está nos últimos versículos do trecho que será proclamado. Lá está a promessa de Jesus: ele disse que bastariam duas ou três pessoas reunidas por sua causa para ele mesmo estar presente junto a elas.
Para juntar multidões, pequenas ou grandes, serve somente uma motivação que as atraia, que suscite entusiasmo, a vontade de torcer por alguma causa. Pode ser um show de algum artista famoso, um jogo decisivo de um campeonato, o comício de um candidato que promete mudar mundos e fundos. Depois, porém, ao apagar das luzes, todos voltam para as suas casas e ninguém mais, ou bem poucos, interessam-se pela vida particular dos demais. De fato, não estavam reunidos para se ajudarem em alguma coisa e menos ainda para “caminhar juntos” rumo a alguma meta comum. O espetáculo acabou. As vaias que gritaram, os cantos que acompanharam e as palmas que bateram juntos não criaram nenhum laço duradouro entre eles. Bem diferente devia ser a comunidade reunida em nome do Senhor Jesus. Como os de fora podiam saber se o que acontecia lá, dentro da comunidade, era algo novo e capaz de transformar a vida das pessoas, se a fé, a esperança e o amor entre eles os uniam cada vez mais? A correção fraterna não tinha como objetivo envergonhar alguém ou chegar a “desligar” quem estava errado. A finalidade era – e sempre deve ser – a “comunhão fraterna”. Sem essa “comunhão” nem Jesus mais está presente, nem o Pai e nem o Espírito Santo. Somente a comunidade unida pode ser um sinal da perfeita comunhão da Santíssima Trindade. Divisões, brigas, invejas e indiferenças tornam inúteis palavras bonitas, cerimônias sofisticadas, enfeites caprichados. Não é por acaso que chamamos a santa Eucaristia, que repartimos nas missas, de “comunhão”. Jesus não se doa a cada um de nós sozinho, isolado ou, talvez, separado. Ele quis ser dom para todos. Rezou ao Pai para que os seus amigos fossem “um”, a fim de que o mundo cresse que ele era o enviado (Jo 17,21). “A comunidade dos fiéis era um só coração e uma só alma” lemos nos Atos dos Apóstolos 4,32.
A “correção fraterna”, feita por amor, continua sendo um grande desafio para todos nós. O nosso orgulho nos impede de aceitar as observações caridosas dos irmãos e irmãs. Se for o responsável a repreender é acusado de autoritarismo. Se for alguém que não tem cargo algum a nos corrigir logo pensamos que não sabe de nada e exigimos respeito. Quantos acabam se “desligando” por conta própria da comunidade por causa de uma palavra dita por alguém numa hora inoportuna. Ou por causa de uma palavra não dita, quando era aguardada para um conforto ou simplesmente por amizade. Somos todos demais sensíveis nesse sentido. Bem fez o religioso indiano em não aceitar a oferta do rico. Ensinou-lhe, a partir da sua pobreza, a não desejar cada vez mais e mais. Apontou-lhe o caminho da humildade e, assim, se acreditamos, também da felicidade.