BELÉM (PA) – Por Dom Antônio de Assis Ribeiro (SDB) | Bispo diocesano
Neste ano motivado pelo Ano Jubilar e aproveitando a festa de São José, padroeiro da Diocese de Macapá, presidi a Eucaristia numa significativa lista de instituições: Prefeitura Municipal, Palácio do Governo, Tribunal de Justiça, SEBRAE, Secretaria de Educação, Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público etc. Em todos esses ambientes estão os nossos leigos católicos testemunhando a própria fé, mas muitas vezes, sendo profundamente pressionados a negarem. O programa de celebrações me levou a pensar na importância da celebração do Ano Jubilar nas instituições civis.
2. O alcance institucional do ano Jubilar
A celebração do Ano Jubilar bíblico tinha como finalidade provocar nas pessoas, nas famílias e na sociedade em geral um impacto capaz de estimular um processo de conversão da sociedade. A negação da possibilidade da transformação das relações invalidava o ano jubilar. Por isso, muitos profetas recordavam à comunidade a necessidade da escuta da trombeta (cf. Is 18,3; Ez 33,4) . A Igreja Católica não deve se limitar à denúncia dos males sociais e institucionais, mas sobretudo, deve abraçar a importância da estratégia preventiva.
A celebração do Ano Jubilar não estava confinada no ambiente religioso, mas era uma proposta que devia perpassar todas as instituições da vida da sociedade e comprometer todas as categorias de sujeitos transformando os ambientes. O livro dos Números nos leva a pensar que o Jubileu dos filhos de Israel tinha como consequência a promoção da justiça social (cf. Nm 36,4).
A prática das exigências do Ano Jubilar gerava a santificação do campo, passando a ser considerado campo consagrado ao Senhor (cf. Lv 27,17-21). O campo era o ambiente familiar das relações de trabalho, negócio e fonte da manutenção da família. Hoje esse ambiente de relações comerciais, de convivência, produção de bens e serviços são as empresas e as várias instituições da sociedade.
Na Encíclica Rerum Novarum o Papa Leão XIII nos apresentou a Igreja em profunda relação com as questões sociais e as instituições da sociedade. Na dimensão social a Igreja cuida daquilo que é seu dever e direito, calar seria trair o seu dever; a Igreja aure do Evangelho sua doutrina e por isso, com sua multidão de instituições é eminentemente benéfica, contribuindo para melhor solução possível diante dos conflitos de classes (cf. Papa Leão XIII, RR, 8,11); as instituições da sociedade civil e o Estado não podem negar o direito natural, pois a sociedade civil foi instituída para proteger o direito natural e não para aniquilá-lo (cf. Papa Leão XIII, RR, 30). Enfim, a Igreja é educadora da sociedade, por isso, não se contenta em denunciar e nem em indicar o caminho que leva à salvação, mas a conduz com a sua própria mão e aplica ao mal o conveniente remédio através da educação (cf. Papa Leão XIII, RR, 15)
2. A função das instituições
A sociedade não é um rebanho; muito menos um bando de sujeitos avulsos e desconexos entre si. A sociedade é o resultado da multiplicidade das relações e vínculos dos sujeitos entre si e suas responsabilidades recíprocas. Graças às instituições, enquanto sujeitos associados em prol de uma causa em vista do bem comum, a sociedade tem estabilidade. Uma sociedade sem instituições, é refém da lei do mais forte. Mas a existência das instituições nem sempre é garantia do espírito ético promotor do Bem Comum. As instituições, porque são formadas por cidadãos comuns, também podem se corromper e negar sua missão.
Num mundo profundamente marcado pela cultura da corrupção, com múltiplas formas de desvios, atalhos, negligências e violências, as instituições em geral são continuamente chamadas à conversão, transparência, promoção da qualidade da prestação dos seus serviços ao povo. A Igreja, chamada a ser sal e luz na sociedade, não deve esquecer o desafio da evangelização do mundo institucional. A laicidade das instituições governamentais é uma porta aberta para a promoção do espírito ético e a promoção da justiça, paz e verdade.
A celebração do Ano Jubilar é uma oportunidade que a Igreja tem de ousar fazer propostas educativas para o mundo das instituições. É claro, que além no Ano Jubilar, deve-se pensar no processo de articulação de uma forma de acompanhar as instituições. Em muitas Dioceses já existe de modo consolidado a cultura das capelanias em muitas instituições como hospitais, Fundações, escolas, Centros universitários, Forças Armadas, polícia, abrigos etc.
Na Encíclica Fratelli Tutti (2020), sobre a Amizade Social, o Papa Francisco acusou alguns males que corroem as instituições contribuindo para a perda da sua desqualificação na sociedade: a hipocrisia, a impunidade, a busca dos interesses pessoais ou corporativos (cf. Papa Francisco, FT, 75-76); a perda da visão do bem das pessoas e do bem comum (cf. FT, 108), o populismo e o servilismo (cf. FT,159). A Igreja pode contribuir para a fidelidade das instituições na sociedade através da amizade social, da educação para a Caridade e da espiritualidade da fraternidade (cf. FT, 99,106,165).
3. Atividades para celebrar o ano jubilar nas Instituições
- Celebrar a Palavra ou a Eucaristia direcionadas aos fiéis católicos;
- Celebrar culto ecumênico onde se possa congregar na mesma instituição a diversidade dos cristãos renovando o senso de respeito, amizade e ação conjunta em prol da finalidade da instituição;
- Promover um tempo de reflexão sobre a importância das virtudes e das boas relações na Vida profissional;
- Estimular a criação de um comitê de qualidade, responsabilidade social e ética na instituição;
- Propor um tempo de reflexão sobre o Bem Comum, a justiça Social e Ética visando a promoção da melhoria da qualidade dos serviços da instituição;
- Fora do horário de trabalho, propor aos profissionais da instituição (como servidores públicos) um dia de retiro espiritual meditando sobre a relação entre fé cristã e vida profissional;
- Após a devida motivação ética e social, estimular entre os colaboradores da instituição uma campanha de doação e ou experiência de serviços voluntários em prol de pessoas em situação de vulnerabilidade social ou de alguma instituição filantrópica;
- Propor aos colaboradores (envolvendo diversas categorias) reflexões através de palestras ou de dinâmica de grupo sobre relações humanas na família e no trabalho;
- Propor às instituições através do departamento de Recursos humanos, um itinerário formativo temático sobre a justiça, reconciliação, amizade, solidariedade, zelo profissional, Esperança;
- Oferecer ao departamento de RH, comunicação e marketing da instituição a ideia de traduzir o tema do jubileu (Peregrinos da Esperança e outros temas relativos) em imagens a serem distribuídas pelos ambientes da Instituição por alguns dias e, ao final, oportunizar uma experiência de escuta. Mensagens de esperança provocam, sensibilizam, estimulam, educam;
- Oferecer à instituição uma manhã de reflexão sobre a relação entre os males sociais e o papel da instituição: quais potencialidades, quais oportunidades, ameaças internas e riscos temos?
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1. Qual é a atenção pastoral que estamos dando às instituições em nossas paróquias/Dioceses? Há essa abertura?
2. Qual das ideias você acha possível promover em sua paróquia?
3. Você saberia listar as principais instituições presentes no território da sua paróquia? Como está o relacionamento com elas?