Bravo, papai!

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Reflexão para o 27º Domingo do Tempo Comum | 02 de outubro 2022 – Ano “C” 
Por Dom Pedro José Conti
Alguns anos atrás, o Teatro da Ópera de Paris estava para começar a estação musical com um espetáculo no qual teria cantado um famoso tenor. Os ingressos foram vendidos rapidamente, porque todos queriam ouvir a voz extraordinária daquele homem. No entanto, aconteceu que o grande artista adoeceu e não pode cantar. O diretor da Ópera, envergonhado, teve que pedir desculpa, explicou a situação e disse que um tenor local substituiria o mais famoso. O público reagiu de formas diferentes. Alguns vaiaram, outros saíram, a maioria estava insatisfeita, mas resolveu ficar. O novo tenor entrou no palco e cantou por duas horas da melhor maneira possível. Quando acabou, o público continuou no mais absoluto silêncio. Não era ele que todos queriam ter ouvido. De repente, um espectador começou a aplaudir e gritou com a sua voz infantil: – Bravo! Bravíssimo, papai! Todos se viraram para olhar aquela criança e vendo o seu entusiasmo aclamaram o cantor. Aquele simples gesto de amor tinha mudado tudo.    
 
No evangelho de Lucas, deste domingo, encontramos coisas pequenas como a fé, comparada a um grão de mostarda, e gestos simples como aquele do empregado que deve preparar o jantar para o seu patrão. O último versículo nos parece até humilhante: Jesus chama de “servos inúteis” os seguidores dele. É assim que ele considera os seus amigos? Evidentemente não. Lucas, com essas palavras e comparações de Jesus, quer nos transmitir um recado muito importante a respeito da fé, que os apóstolos pedem que o Senhor a aumente. A resposta de Jesus deixa entender que a dita “fé” não se mede pelo tamanho, mas pela qualidade. É costume entre nós falar de “muita” ou “pouca” fé. Talvez deveríamos aprender a falar mais de fé sincera e verdadeira, deixando as medições do tamanho dela à misericórdia de Deus. 
 
Com efeito, muitas vezes consideramos pessoas de muita fé, aquelas, que, ao falar, usam bastante o nome de Deus ou aquelas que rezam muito ou “vivem na igreja”, como diz o povo. Pode ser mesmo assim, mas Jesus fala de “plantar” uma amoreira no mar, algo, digamos, praticamente sem sentido. Acredito que ele quisesse dizer que a fé verdadeira deve surpreender. Não será feita simplesmente de declarações e bons gestos; ela deve mudar, transformar, revirar de cima para baixo algumas situações. Pela fé, o que parece impossível pode se tornar realidade. É o que lemos de Abrão na carta aos Romanos: “Esperando contra toda esperança, ele acreditou e, assim, tornou-se pai de muitos povos…” (Rm 4,18) ou de Moisés, na carta aos Hebreus que deixou o Egito “como se visse o invisível” (Hb 11,27). Maria, também, é “bem-aventurada” porque acreditou no impossível da anunciação (Lc 1,37). Quantas pessoas “de bem” disseram do próprio Jesus e de muitos cristãos e cristãs que depois o seguiram que tinham enlouquecido? (Mc 3,20-22).
 
Sem arriscar nada, bem acomodados nas nossas ideias e seguros dos resultados dos nossos projetos, vivemos uma fé feita de costumes, orações repetidas, gestos acuradamente planejados. Nesse caso, qualquer “religião” serve porque, afinal, somos nós mesmos que decidimos o rumo da nossa existência. Qualquer “Deus sem rosto” vale para dizer que acreditamos nele: aquele de alguma Igreja tradicional ou um mais recente bem animado, sem tanta doutrina e regras morais. Por isso, ficamos ressentidos a ouvir Jesus dizer que o servo que deve preparar o jantar ao patrão, simplesmente, cumpriu a sua obrigação: fez o que devia fazer. Certo, porque a fé verdadeira não está nos nossos planos, mas na obediência aos projetos de Deus. O heroísmo da fé consiste na humilde disponibilidade a servir, até o fim, a causa do Reino dos Céus e não aos nossos sonhos de poder e de glória humana. Para Jesus, é melhor sermos “servos inúteis”, fiéis servidores do seu Reino do que, talvez, príncipes de qualquer império humano feito de injustiças e disputas, de exploração, ganância e violência. Sem esquecer que o Senhor chama de bem-aventurados os servos que encontrar “acordados”,  quando ele voltar; ele mesmo os fará sentar à  mesa e passará a servi-los (Lc 12,37). Então? Queremos aplausos porque acreditamos? Só dos pequenos agora. De Jesus, depois.

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