O homem sistemático

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Reflexão para o XVI Domingo do Tempo Comum| 17 JUL 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Jr 23,1-6 | Salmo: Sl 22| 2ª Leitura: Ef 2,13-18| Evangelho: Mc 6,30-34

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Havia um homem que se gabava de ser o mais organizado do mundo. Nunca deixava algo ao acaso. Por exemplo, de manhã, na hora de levantar-se, precisava procurar a roupa que havia espalhado de noite, antes de dormir. Isso o incomodava muito. Uma noite, tomou caneta e papel e anotou onde tinha deixado todas as peças da sua roupa. Ao amanhecer, todo alegre, tomou a folha e leu: a calça está ali, a camisa está no cabide, o paletó está na cadeira… Conseguiu recuperar tudo rapidamente. No entanto, de repente, um pensamento o paralisou: – Tudo bem, mas eu mesmo onde estou? Começou a procurar a si mesmo, mas isso não estava anotado na folha. Assim, o homem não se encontrou.

Continuando a leitura do evangelho de Marcos, a Liturgia da Palavra deste 16º Domingo do Tempo Comum,  apresenta-nos a volta dos discípulos que Jesus tinha enviado em missão. Como era de se esperar, a primeira coisa que eles fazem é contar “tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6,30). A partilha da experiência faz parte da caminhada. É necessária para acertar os passos, corrigir exageros, consolar os que foram rejeitados, mas, sobretudo, não perder o foco e o jeito da própria missão. Nesse momento, Jesus enxerga outros perigos para os doze: o excesso de trabalho e a identificação da Boa Notícia com eles. Para evitar essa confusão, Jesus os chama para uma pausa de descanso, afastados das multidões que os procuram sem trégua. A missão continuará depois e Jesus não se omitirá de atender ao povo para o qual sente grande compaixão. Esse povo se parece com um rebanho espalhado sem rumo, sem uma meta, sem um pastor para mostrar-lhe o caminho certo. Por isso, Jesus começa “a ensinar-lhes muitas coisas”. É o primeiro “alimento” que o Mestre oferece às multidões, depois virá outro, novo e diferente, como veremos nos evangelhos dos próximos domingos.

Por que ir num lugar deserto para descansar “um pouco”? A missão não devia ser prioridade absoluta? “Descansar” não é um luxo para poucos ou um perder tempo quando têm coisas mais importantes para fazer? Cada um pode procurar as respostas, eu, simplesmente, levanto algumas questões. Do ponto de vista do nosso corpo, nós todos temos limitações. Não somos máquinas com peças de reposição. Em geral, quem trabalha demais corre o perigo de se esgotar, de ser obrigado a parar vez por outra, para não findar uma vez por todas. No entanto, o outro perigo – perder o foco da missão – é muito mais grave. A empolgação e a responsabilidade com o anúncio do Evangelho não devem ser confundidas com o fato de chegar a pensar que somos indispensáveis para a missão, ou seja, que sem nós, nada mais vai para frente. No fundo, a questão é trocar a própria Boa Notícia, que depois é Jesus e o seu exemplo, com as nossas pessoas e o cargo que, temporariamente, ocupamos. Significa nos identificar tanto com o trabalho missionário de pensar que o Reino (de Deus) dependa de nós. Esquecer que somos “servidores da Palavra” e não donos. Pode acontecer a qualquer um: aos bispos, aos padres, a algum animador e animadora. Quantas vezes escutamos pessoas dizer: “Se eu sair da frente, desmorona tudo, a Comunidade desaparece…”. Pensar e dizer isso é, no mínimo, falta de fé. O fato de nos considerarmos indispensáveis nos enche de orgulho e, muito provavelmente, impede a outros irmãos e irmãs de participar e colaborar. 

Estar cheios de entusiasmo com a missão é um grande dom, mas saber dar espaço e oportunidade para os outros é, mais ainda, sinal de maturidade, de humildade e de confiança nos projetos de Deus, porque é ele o Bom Pastor que conduz o seu povo. “Descansar” não é, portanto, simples folga ou preguiça, é algo necessário para saber quem somos, para onde vamos e, sobretudo, para conhecer cada vez mais e melhor aquele Jesus que devemos anunciar. Para isso, servem a oração pessoal, a meditação da Palavra, momentos e dias de Retiro. Ficar a sós com Jesus, e olhar dentro de nós com sinceridade, é indispensável para sermos verdadeiros missionários do Evangelho de Jesus. Antes de fazer a lista das tarefas a serem cumpridas – a roupa espalhada – precisamos saber quem somos e porque fazemos aquilo.   

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