Artigo de Dom Pedro – O que me conta…não pode ser real

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Por Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

O filosofo John Locke (1632 -1704) relata uma história recolhida naqueles anos. Certo dia, o rei da Tailândia escutava com atenção os relatos do embaixador da Holanda. Este narrava:

– Na Holanda, quando a água esfria muito torna-se sólida e os homens podem caminhar sobre a superfície. O rei franziu a sobrancelha. O embaixador, ao notar a incredulidade do rei, acrescentou:

– Mais ainda: se na Holanda houvesse elefantes, no inverno poderiam caminhar sobre a água gelada de um lago e não afundariam. O rei indignado, levantou-se de seu trono e interrompe-o:

-Já basta! Até hoje acreditei em todas as suas histórias. Considerava-o um homem prudente e sábio. Agora, porém, sei que me enganou. O que me conta…não pode ser real.

Hoje podemos sorrir da incredulidade do rei da Tailândia, mas, coitado, naquele tempo ele não tinha como conferir, com seus próprios olhos, o que o embaixador da Holanda lhe contava como algo natural em seu país. Os anos passaram, mas certas coisas não mudaram muito. Nós também, às vezes, acreditamos em coisas que nunca poderemos averiguar e, outras, duvidamos do que está bem de baixo dos nossos olhos. No fundo, somos todos gêmeos do nosso irmão Tomé. Isso porque, em geral, é mais fácil acreditar no que nos agrada, e que gostaríamos fosse verdade, e duvidar daquilo que nos incomoda ou não cabe em nossos raciocínios e convicções.

A questão é sempre dupla: primeiro, o assunto no qual podemos ou não acreditar e, segundo, quem nos convida a botar fé. Tomé duvidou de ambas as coisas: da Boa Notícia que Jesus estava vivo, ressuscitado, e dos amigos que diziam o terem visto. São duas coisas diferentes, mas, em seu projeto de amor, Jesus, agora Senhor e Cristo, escolheu não aparecer a todos, mas somente a alguma “testemunhas” envolvendo-as assim, numa forma especial, no anúncio da vitória dele sobre o mal e a morte.

De fato, a Ressurreição de Jesus, como evento em si, nunca poderá ser provada com os métodos técnicos e científicos que hoje consideramos infalíveis. Isso seria possível se a Ressurreição fosse um acontecimento, digamos, deste mundo, o nosso, sensível, material onde tudo, mais ou menos, pode ser medido, pesado, filmado etc. Não, a Ressurreição é um fato de Deus, é obra do Pai que ressuscita o seu Filho para nos reintegrar no seu amor infinito apesar dos homens tê-lo rejeitado e crucificado. Devia ser assim, porque o Filho Jesus veio neste mundo, justamente, para nos fazer conhecer quanto extraordinária e inimaginável é para nós a misericórdia do Pai.

É algo que só podemos perceber quando nós também arriscamos perdoar quem nos ofendeu, quando temos compaixão e cuidamos de quem, talvez, nem conhecemos e que, provavelmente, nunca irá nos agradecer. Sobretudo, quando apostamos com toda a nossa confiança que as coisas irão mudar se acreditarmos menos na nossa autossuficiência e seguirmos mais os caminhos surpreendentes percorridos por Jesus. Ele não buscou o sucesso humano, as riquezas deste mundo, uma vida fácil e cômoda, não se preocupou em agradar grandes e poderosos. Não! Ele quis nos dar o exemplo de uma entrega total por amor a todos os pecadores a começar pelo ladrão que estava à sua direita na cruz até o pobre Pedro, medroso, que fugiu e o negou. A Ressurreição de Jesus pode precisar de explicações “teológicas” para ser entendida. No entanto, desde o início, sempre será “provada” somente pela vida nova das testemunhas, ou seja, pela vida daqueles que desistiram de confiar nos próprios merecimentos, nas obras da própria justiça, e se deixaram tocar pelas chagas do Crucificado e de todos os crucificados deste mundo.

Sim, Tomé “tocou” nos sinais da Paixão, mas foi Jesus que “tocou” no seu coração e curou a sua incredulidade. Ainda hoje o mundo, para acreditar, precisa de “testemunhas”, silenciosas e pacientes, mas corajosas e insistentes na paz, no amor, na generosidade e na compaixão. Porque para sempre serão esses os sinais de quem acredita na Ressurreição de Jesus. Para o resto… podem zombar de nós, como o rei da Tailândia fez com o embaixador da Holanda.

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