O defeito do cientista

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Reflexão para o Domingo do XXIX Domingo do Tempo Comum| 17 OUT 2021 – Ano “B” 

1ª Leitura Is 53,10-11 | Salmo 32 2ª Leitura: Hb 4,14-16| Evangelho: Mc 10,35-45 – Forma breve Mc 10,42-45

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Certa vez, um cientista tinha encontrado o jeito de reproduzir a si mesmo, de maneira tão perfeita que era impossível distinguir a cópia do original. Um dia, ele soube que o Anjo da Morte o estava procurando. Preparou uma dúzia de cópias de si mesmo. Assim, quando o Anjo chegou, teve dificuldade para saber quem devia levar entre os treze exemplares. Não demorou muito, porém, para que o Anjo, bom conhecedor da natureza humana, voltasse com ele e lhe dissesse: 

– Parabéns, o senhor deve ser um gênio, conseguiu cópias perfeitas, no entanto, eu descobri um pequeno defeito. 

– Impossível! Onde está o defeito? – reagiu o verdadeiro cientista, ferido em seu orgulho. 

– Bem aqui – respondeu o Anjo, e, sem mais dúvidas, levou o original no meio das cópias.

No evangelho de Marcos, deste domingo, encontramos novamente o convite de Jesus à doação e ao serviço. A insistência significa que se tratava de um assunto difícil para ser entendido e que nem os apóstolos e nem os primeiros cristãos conseguiam escapar da tentação de querer ser os primeiros e os mais importantes. Os dois irmãos, Tiago e João, não esconderam as suas ambições de estar ao lado daquele que imaginavam viria a ser o poderosos rei-messias. Os demais apóstolos ficaram indignados, talvez por não estarem de acordo ou, simplesmente, porque os dois tinham-se antecipado no pedido, surpreendendo, assim, a todos. Em resposta, Jesus os desafia a participar da sua missão de messias sofredor. A cruz, aqui chamada de cálice a beber e de batismo a receber, será o único privilégio daqueles que, livremente, decidiram segui-lo. Nenhuma comparação é possível entre os amigos de Jesus e os grandes das nações. Esses oprimem e tiranizam os povos, mas entre os discípulos quem quiser ser o primeiro será o servo de todos. A absoluta novidade é ele mesmo, o Filho do Homem, “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45).

Se olharmos a sociedade na qual vivemos temos que reconhecer que pouco mudou dos tempos de Jesus. Oficialmente não temos mais reis e imperadores “tiranos”, mas o poder de decisão continua nas mãos de poucos; existem organizações e corporações, sem rosto, querendo só ganhar e capazes de mudar o destino de povos inteiros e do planeta todo. Não vamos falar mal dos outros. Olhemos para nós cristãos, nós que fazemos questão de nos proclamar seguidores de Jesus. Deveria ter ficado claro que devemos pensar e agir diferente, digamos, do “mundo”. Onde podemos aprender o novo? O exemplo e a experiência do amor-serviço devem acontecer na Comunidade–Igreja. Quando a Igreja é vista como uma prestadora de serviços religiosos e não como uma grande fraternidade, as coisas continuam a funcionar com a autoridade que manda, o pagamento das rezas e as amizades que traficam favores. Assistimos a clérigos ovacionados e aplaudidos, não pelo serviço da caridade aos pobres e excluídos, mas por agradar aos gostos do espetacular, do mais fácil, do emocional, das bênçãos e devoções milagrosas. A caridade movimenta grandes quantias, mas continua prevalentemente assistencial, porque é sempre mais simples e menos incomodo distribuir sopa e cestas básicas do que questionar o sistema, desmascarar as raízes da miséria e da fome e tentar mudá-lo. Estou exagerando? Basta conferir quem são os personagens mais famosos que estão presentes na mídia e aqueles que têm mais seguidores nas redes sociais.

 Quando a missa é avaliada conforme quem a preside ou a Palavra de Deus é confundida com o pregador, é necessário ficar alerta. As tentações do sucesso, de ter massas aplaudindo, de fazer algo extraordinário, são as mesmas que o próprio Jesus teve que vencer ao longo de sua vida. O caminho para mudar as coisas é aquele que começa lá de baixo, no serviço aos pequenos, nas vidas doadas em resgate pela dignidade e a libertação dos esquecidos. O caminho da ressurreição passa pela cruz. Jesus não fugiu dela. Não nos pede para sermos “cópias” dele. Seria impossível. Mas cristãos mais corajosos e comunidades mais fraternas, sim, podemos ser.     

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