A capa rasgada

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Reflexão para o Domingo de Pentecostes do Senhor| 23 MAI 2021 – Ano “B”

1ª Leitura At 2,1-11 | Salmo: Sl 103| 2ª Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13| Evangelho: Jo 20.19-23

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Certa vez, um soldado perguntou a um ancião:

  • Deus concede o perdão aos pecadores? O ancião respondeu:
  • Me diga, se a sua capa rasgar, você vai jogá-la fora? O soldado respondeu:
  • Não, eu vou concertá-la e voltar a usá-la novamente. O ancião concluiu:
  • Se você zela assim por sua capa, Deus não será misericordioso com o ser humano que é a sua própria imagem?

Com a solenidade de Pentecostes concluímos o Tempo Pascal. Fomos convidados a crescer na fé, a produzir bons frutos e enviados em missão até “os confins da terra” e até o fim da história.
Muitas coisas devem ser guardadas porque constituem a nossa “memória”, mas muitas outras precisam de renovação ou serão mesmo totalmente novas, nas formulações, no entusiasmo, na coragem. No início do “novo milênio”, proclamamos: Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. No entanto a humanidade se renova a cada geração e nenhuma repete simplesmente o que recebeu das gerações que a precederam. A “sabedoria” para discernir o que não pode mudar e o novo que surge é obra do Divino Espírito Santo. Quando Jesus prometeu o dom do Espírito disse: “ele vos ensinará tudo e recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). O Espírito, portanto, nos garante a memória de Jesus, para que não cheguemos a anunciar alguém que não seja mais aquele único Senhor Jesus Cristo. Contudo, o mesmo Espírito nos “guiará a toda a verdade” e “anunciará coisas que hão de vir” (Jo 16,13), ou seja, algo “novo” que ainda não conhecemos.

Tudo isso porque nós acreditamos que algo, como a Encarnação, Paixão Morte e Ressurreição de Jesus, foram eventos que aconteceram uma vez por todas. Porém é também verdade que a cada ser humano que chega neste mundo deve ser oferecida, de uma forma ou de outra, diretamente ou indiretamente, a possibilidade de encontrar Jesus Cristo e, talvez, tornar-se seu discípulo ou discípula. Digamos: um encontro “novo” para pessoas “novas”.

No evangelho deste Domingo de Pentecostes, junto ao dom do Espírito Santo, encontramos mais três “presentes” de Jesus: a paz, a missão e o perdão. O envio da Comunidade expressa a vontade do Senhor que os seus seguidores continuem a mesma missão dele, a que o Pai lhe confiou: de fazê-lo conhecer e amar. Não, portanto, um Deus que afaste e amedronte, um Deus cobrador, castigador e imprevisível nos seus caprichos, mas um Pai amoroso e misericordioso, sempre pronto a doar paz e perdão. Isso não porque Deus seja um bonachão, fácil de se enganar, mas porque nos ama de maneira surpreendente a ponto de respeitar as nossas recusas e revoltas. Acredito que devemos testemunhar mais o nosso Deus, Pai de Jesus Cristo, construindo paz e perdão. Vivemos numa sociedade competitiva ao extremo, onde sobressair e se impor é o sonho e o esforço de muitos. A afirmação individual e a busca de privilégios nos tornam cegos com os mais desfavorecidos, os simples e os pobres.

Duvido que o sucesso, conseguido a qualquer preço, dê a paz do coração. Mais facilmente dá arrogância e desprezo para os demais. Paz é encontro, diálogo, escuta, respeito e valorização do outro assim como ele é, um ser humano também imagem de Deus por desfigurado que seja. A paz verdadeira vai junto com o perdão. Este não é simples esquecimento do mal que fizemos. Perdão é correção dos erros, conversão de valores, mudança de atitudes, devolução do que injustamente roubamos. Hoje, não furtamos somente dinheiro ou bens materiais, tiramos também possibilidade, fechamos portas, recusamos compaixão e misericórdia.

Agradecemos quem nos dá atenção e é paciente conosco, porque carinho e solidariedade ficaram pérolas raras. Queremos tudo para nós, reclamamos da falta de amor, mas esquecemos a alegria de doar um pouco do nosso tempo, sem cobrar depois, sem jogar na cara o que fizemos e que, talvez, era nossa obrigação como pais, mães, filhos, irmãos, chefes, patrões… Perdão é “remendo” sim, para lembrar que podemos rasgar tudo novamente. Mas se é Deus que perdoa, podemos começar um caminho “novo”. Alegres e confiantes.

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