“O crítico e as obras de arte”

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Reflexão para IV Domingo do Tempo Comum| 31 JAN 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Dt 18,15-20 | Salmo: 94| 2ª Leitura: 1Cor 7,32-35 | Evangelho: Mc 1,21-28

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Um senhor tinha um grave problema de miopia, no entanto se gabava de ser um grande entendedor de obras de arte. Certa vez, foi visitar um museu com alguns amigos. Na entrada, tropeçou e quebrou os óculos. Ficou praticamente sem visão. Nem por isso quis desistir de explicar aos visitantes a beleza das obras de arte que estavam em exposição. Parou na frente daquilo que pensava ser o retrato de um corpo inteiro e começou a falar. Com o jeito de quem entende, disse que a moldura era absolutamente imprópria, que o homem estava vestido de forma ordinária e até vulgar. Segundo ele, o artista tinha escolhido um sujeito bem caipira, sem elegância alguma.

Aquele senhor não parava de apontar detalhes e mais detalhes, até que a mulher dele aproximou-se com discrição e disse ao ouvido dele: “Querido, você está na frente de um espelho!”

Neste Quarto Domingo do Tempo Comum, o evangelho de Marcos nos apresenta Jesus ensinando e curando na sinagoga de Cafarnaum. Nas sinagogas, não se faziam sacrifícios, como no Templo, só se proclamavam, pregavam e rezavam as Escrituras. É por lá, bem longe de Jerusalém, dos sacerdotes, escribas e doutores da Lei que Jesus inicia a sua missão. Ou seja, afastado daqueles que eram considerados as máximas autoridades no campo da religião. No entanto o povo escuta Jesus falar e fica admirado com o seu ensinamento. O evangelho não diz que Jesus ensinava “contra” alguém, simplesmente diz que ele falava “como quem tem autoridade e não como os mestres da Lei”. Com isso ficamos curiosos para saber onde estava a diferença. Mas Marcos vai ainda mais longe. Apresenta Jesus curando um homem possuído por um espírito mau que acaba de chamá-lo de “Santo de Deus”. Jesus manda que se cale e que deixe de perturbar aquele pobre coitado. Mais uma vez, o povo fica admirado e além de reconhecer a autoridade de Jesus, que manda até nos espíritos maus, admite a novidade do ensinamento dele. Assim nós ficamos mais curiosos ainda: o que Jesus ensinava mesmo?

Talvez nós esperaríamos um resumo das palavras de Jesus, mas nada disso nos deixou o evangelista, somente fala de “autoridade” e de “novidade”. Não faz isso pelo gosto de sintetizar as coisas; ao contrário, o faz para nos ajudar a entender o essencial. A “novidade” não está nas palavras e na quantidade delas, mas no próprio Jesus: ele mesmo é a Palavra viva. Além do Novo Testamento dizer-nos isso de muitas formas, os Padres da Igreja ensinaram que tudo o que Deus tinha comunicado durante séculos de história ao seu povo ficou “concentrado” numa “palavra” só: a pessoa de Jesus. Isso corresponde a dizer que Deus comunicou à humanidade mais que uma doutrina, um conjunto de normas, uma Lei ou um Livro. Em Jesus, com a vida dele doada, Deus quis comunicar a si mesmo e o seu jeito de ser.

A “autoridade” e a “novidade” de Jesus continuam a nos convidar à conversão, a segui-lo com presteza e generosidade. Ele prometeu que o Espírito Santo nos lembraria tudo o que ele tem ensinado. O contrário é, evidentemente, o espírito mau que reconhece o Santo de Deus, mas não se deixa transformar pelo amor, não busca a Comunidade onde essa Palavra continua a ser proclamada. Esta é, sabemos, outra grande novidade. A Palavra viva deve ser oferecida a todos, porque todos, a começar pelos pobres, doentes e excluídos, são filhos muito amados pelo Pai que o Filho veio revelar. 

Com certeza, Jesus ensinou também com palavras, alguns dos seus discursos ficaram, mas João diz que seria impossível contar tudo o que Jesus fez e ensinou, porque “nem o mundo inteiro poderia conter os livros a serem escritos” (Jo 21,25). Significa que o quanto foi escrito deve ser suficiente para encontrar, conhecer e acreditar em Jesus. Talvez sejamos nós que esquecemos onde devemos procurar o que é verdadeiramente sempre novo e fascinante. O Crucificado, que “não tinha aparência e nem beleza” (Is 53,2) é a maior “obra de arte”, o ser humano mais perfeito, porque nos amou até o fim. Amou de antemão também os inimigos e os ingratos. Só Deus pode amar assim. Quantos de nós continuamos a nos olhar no espelho. Falamos, falamos, mas… só de nós. Enxergamos muito mal.

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