Quem você pensa que é?

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Reflexão para o Domingo do Batismo do Senhor| 10 JAN 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Is 42,1-4.6-7 | Salmo: 28| 2ª Leitura: At 10,34-38 | Evangelho: Mc 1,7-11

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Alguns anos atrás, um sobrinho da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, foi parado pela polícia rodoviária ao dirigir em alta velocidade.

– Sabe com quem você está falando? – disse ao guarda.

– Quem você pensa que é? – retrucou o policial. Por não trazer carteira de habilitação, foi multado, e o carro, apreendido.

Mais tarde, o juiz exigiu que ele pedisse desculpa ao guarda.

Saber quem somos, de verdade, é muito importante para a nossa vida, seja para não nos exaltar demais, seja, ao contrário, para não nos deixar humilhar ou diminuir pisando em cima da nossa dignidade. No entanto responder à pergunta “quem é o ser humano” não é nada simples. Sempre haverá margem para juntar algo mais às tantas interpretações que foram e ainda serão dadas por filósofos, cientistas, mulheres e homens religiosos. Faltando, por enquanto, extraterrestres, com quem nos confrontar, somos nós, humanos, as criaturas vivas mais misteriosas que conhecemos. Afinal, somos também os únicos que se põem a essas perguntas: quem somos? De onde viemos e para onde vamos?

No evangelho de Marcos, deste domingo, festa do Batismo do Senhor, que encerra o Tempo de Natal, encontramos uma palavra do Pai, dita a respeito de Jesus: “Tu és meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11). Marcos não diz se outros, além de Jesus, viram essa manifestação; o que interessa é a confirmação de quanto ele já tinha escrito nas primeiras linhas: “Início do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Porém além do Espírito que rasga o céu e desce sobre ele, tem outra novidade: Jesus está na fila com os demais pecadores que aceitavam o batismo de João Batista como início de uma nova etapa da própria vida. Não era um mero banho de purificação, era um batismo “com água, como sinal de arrependimento” (Mt 3,11), um compromisso de mudança e renovação. Sempre dizemos que Jesus não precisava confessar nenhum pecado (Mt 3,6). No entanto ele se identifica e se solidariza com os pecadores para iniciar o novo caminho de reconciliação com Deus Pai. Fica, assim, revelada a missão do Filho amado e o sentido do batismo “com o Espírito Santo”: reconduzir os filhos ao encontro com o Pai. Ao mesmo tempo, é afirmada a igual dignidade de todo ser humano além de qualquer característica que possa nos diferenciar uns dos outros. Em Jesus, somos todos filhos e filhas amados. O Pai não poupou o seu Filho para nos resgatar de todas as escravidões, injustiças ou discriminações que possam levantar dúvida sobre a grandeza de toda pessoa humana.

Quando o ser humano é reduzido a um número qualquer num campo de concentração ou de refugiados, quando se torna uma mera estatística na contagem dos mortos de fome ou de coronavírus, algo preocupante está acontecendo. A tristeza maior para uma pessoa não é simplesmente o fato de saber que irá morrer um dia, mas a condição de não existir, de fato, ainda vivo, porque não considerado, não respeitado, não escutado. Jesus mostrou com a sua própria vida a preferência do Pai pelos pequenos, os doentes, os fracos, os pobres e os pecadores. Ele mesmo foi julgado como um malfeitor que devia morrer. O que torna cada ser humano digno de respeito e com direitos é, em primeiro lugar, o amor do Pai para cada um dos seus filhos e filhas. Como cristãos, seguidores de Jesus, nós temos a missão de continuar a promover o respeito pela vida de toda pessoa. Muitas vezes, nas nossas reuniões somos convidados a nos dizer uns aos outros: “Deus te ama”. Bonito. Mas serve pouco se não se torna compromisso de fraternidade.

As primeiras comunidades eram exemplares na partilha e na solidariedade. Ser cristão é um dom; nunca pode ser considerado um privilégio que nos faça olhar os demais como menos dignos ou menos amados por Deus. Ao contrário, “evangelizar” sempre será anunciar a todos os que ainda não o sabem quanto valem e quanto são amados. Cabe a nós provar o amor do Pai com os seus filhos através do nosso amor, interesse e cuidado. Somos todos bem mais que sobrinhos da rainha da Inglaterra!       

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