Artigo de dom Pedro Conti: Os fuxiqueiros

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Reflexão para o 25º domingo do tempo comum 

| Por dom Pedro José Conti – bispo de Macapá

Todo ser humano, que viva no meio de fuxiqueiros, qualquer coisa ele faça é destinado a perder. Se é pobre, é porque não soube administrar. Se é rico, é porque trambicou ou teve muita sorte. Se se ocupa de política, o faz só por interesse. Se foge da política, não é suficientemente experto para se meter nessa. Se não ajuda ninguém é mão de vaca. Se faz caridade, o faz para aparecer. Se ajuda na Igreja, com certeza deve ganhar alguma coisa. Se não frequenta nenhuma comunidade, coitado, está perdido. Se manifesta afeto, é um sentimental. Se não o manifesta é um ser frio e insensível. E assim por adiante… Ninguém escapa das murmurações. Só que antes o fuxico acabava na rua ou no bairro, hoje se espalha pelo mundo inteiro.  A tecnologia inventou um nome novo, em inglês: fake news, mas nada mudou. Gostamos de falar da vida dos outros.

No evangelho de Mateus deste domingo, encontramos a parábola dos trabalhadores da última hora. No final dela, Jesus diz palavras surpreendentes: “Os últimos serão primeiros; e os primeiros, últimos” (Mt 20,16). Injustiça ou novidade do Reino dos céus? Para entender basta ler o versículo 30 do capítulo anterior. Lá, Jesus disse algo parecido como conclusão da resposta que ele deu à pergunta de Pedro: “Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que havemos de receber?” (Mt 19,27). Naquela ocasião, Jesus havia prometido que, no “mundo renovado”, todos aqueles que tivessem deixado “casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos”, iriam receber “cem vezes mais” e “como herança a vida eterna” (Mt 19,29). Aparentemente um “super” prêmio para os fiéis seguidores. Contudo “muitos” dos primeiros ficarão por últimos. Haverá farta recompensa, sem dúvida alguma, mas com uma prioridade diferente daquela que podia ser entendida como uma ordem de chegada. A parábola dos trabalhadores da vinha é, portanto, a exemplificação de uma “justiça” nova ou, melhor, da própria bondade de Deus.

Jesus apresenta uma situação comum naquele tempo, mas com uma sucessão de fatos e uma conclusão inéditas. Os donos das vinhas contratavam de manhã cedo os trabalhadores. A jornada era de sol a sol e a paga era de uma moeda de prata. O patrão da parábola, porém, continuou contratando ao longo do dia, até faltar só uma hora para o término do dia. De fato, alguns operários trabalharam bem pouco. Mais do que justo seria que ganhassem menos ou em proporção às horas trabalhadas. Mas não foi isso que aconteceu: todos receberam a mesma moeda. Injustiça ou generosidade do patrão?

Obviamente teve murmuração e a resposta do dono da vinha não deixou dúvidas: por que invejar a sua bondade? Ele não podia dispor livremente do seu dinheiro? É fácil entender que, por trás da parábola, está a polêmica de Jesus com os escribas e fariseu que se achavam “os primeiros” chamados e, portanto, os mais dignos herdeiros das promessas. Essa, podia ser também a tentação dos discípulos que sonhavam com um tratamento privilegiado. Jesus não nega a precedência do povo da Antiga Aliança, mas deixa entender que no Reino dos Céus a recompensa será para todos, também para os que chegarem depois ou bem na última hora. O relógio da bondade de Deus funciona de maneira diferente.

Continuamos o fuxico: se for assim, podemos ser tentados a ficar aguardando a última chamada. Se ao final a recompensa é a mesma, por que ficar suando o dia inteiro? Vamos aproveitar da bondade do patrão e ficar à toa por aí. Quantos “cristãos” deixam sempre para depois as coisas de Deus. Outros não, se engajam nas obras do Reino desde a juventude e labutam a vida inteira. É muito bonito quando esses irmãos e irmãs “da primeira hora” fazem isso sem pensar na recompensa. Estão sempre prontos a ajudar, não medem esforço na busca da verdade, da justiça e da paz. Basta-lhes saber que estão colaborando com o Reino dos Céus. Deve ser a alegria desses irmãos e irmãs a atrair outros para o trabalho na vinha do Senhor. Porém, se são eles e elas os “primeiros” fuxiqueiros da Comunidade, é porque não são felizes. Afastam em lugar de cativar.   

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