Artigo de dom Pedro: Uma jornada vazia

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Reflexão para o 22º Domingo do Tempo Comum

Por dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Certo dia, um jornalista da área policial disse ao diretor do jornal para o qual trabalhava:

  • Hoje é uma jornada vazia: nenhum homicídio, nenhum tiroteio, nenhum assalto a bancos…nada. O di retor re spondeu:
  • Não desanime. Eu confio na natureza humana. Antes da noite, alguma coisa acontecerá. Fique atento !

O evangelho de Mateus do 22º Domingo do Tempo Comum é a exata continuidade do trecho proclamado domin go passa do. Só com isso a Liturgia da Palavra nos sinaliza que o certo é ler as duas partes juntas. Por várias razões, porém, elas foram divididas. Com certeza, não para contrapor uma à outra, mas para uma melhor compreensão de ambas. Como adiantei domingo passado, a partir desta parte central do seu evangelho, Mateus nos apresenta Jesus falando abertamente da sua rejeição, do seu sofrimento e, enfim, da sua morte e ressurreição. A reação de Simão, que agora já é chamado de “Pedro”, a pedra, é imediata. Ele ainda não pode entender claramente o que será aquilo que Jesus chama de “ressurreição”, mas a morte a conhece bem. A afirmação mais escandalosa para ele era que o “Filho do Deus vivo” devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte das máximas autoridades religiosas da quele mo mento. Na cabeça de Pedro, muitas coisas não combinavam. Com efeito, a maioria aguardava a chegada do Messias numa apoteose triunfal e arrebatadora. Jerusalém e o seu Templo iam se tornar o centro do mundo.

Grupos rebeldes tramavam revoltas e esperavam um líder guerreiro à altura dos antigos conquistadores da Terra Prometida. O povo sofrido estava dividido. De qualquer maneira, chegasse o “messias”, os pobres esperavam tempos melhores de fartura e tranquilidade. Como sempre acontece, as expectativas eram as mais diversificadas; no fundo, cada grupo sonhava conforme os seus interesses. Ninguém dos grandes queria perder privilégios e prestígio. Verdade que alguns profetas tinham falado de um “messias” humilde e sofredor, mas era difícil aceitar. Talvez, até os pescadores da Galileia, conscientemente ou não, tinham seguido o “profeta de Nazaré” na espera a de alguma vantagem, de poderem sentar-se um dia à direita e à esquerda dele quando fosse o “rei”. A confusão era completa.

Não estou dizendo isso para justificar o pensamento do pobre Pedro, duramente repreendido por Jesus. Simpl esmente, estou partilhando o que ainda muitos de nós pensam. Resumo tudo com duas perguntas e uma afirmação que facilmente escutamos por aí e que, mais ou menos, chegam à mesma conclusão. As perguntas: “Se Jesus era mesmo o Cristo, por que não resolveu todos os problemas? Porque ainda tem o mal, o sofrimento e a morte?” E a afirmação: “Nem Jesus agradou a todos…” Entendo que se queira dizer com isso que certos conflitos de interesses nunca serão resolvidos. Na prática, estamos dizendo que as coisas deste mundo nunca mudarão. Essa é sempre a estratégia de “satanás”: reconhecer, talvez, a boa vontade de alguns visionários, mas, no fundo, afirmar que quem manda neste mundo são e sempre serão a esperteza, a força e o poder.

Jesus, nessa disputa, sai perdedor, crucificado e morto. Foi assim para os que o condenaram, mas não para o Pai qu e o ressuscitou. O “Messias” usou aquela outra força tão desacreditada neste mundo: o amor. A força de quem prefere morrer que matar, que liberta porque não obriga, que transforma por dentro e não somente por fora. É a força da compaixão, da misericórdia, da partilha. Sabemos que a “luta” entre o bem e o mal, entre a verdade e as mentiras bem apresentadas, entre o “bem comum” e as mordomias individuais é longa. Essa batalha é travada na vida de cada um de nós. A “cruz” que carregamos é pessoal e de todos juntos, ao mesmo tempo. Pede a cada um e a todos, decisão, coragem, muita esperança. Nunca podemos desistir porque acreditamos que a “glória” final será daquele “crucificado” que nos amou “até o fim” (Jo 13,1). Não tem “força” maior porque at& eacute; a morte foi vencida. Cabe a nós enchermos cada dia de bem e deixá-lo vazio de mal. Só notícias boas, de uma natureza humana redimida pela cruz de Jesus. Fiquemos atentos.

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