Artigo de dom Pedro Conti: Têm milagres e milagres

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 Reflexão para o 19º domingo do Tempo Comum

|Por Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá 

Um homem atravessou terras e mares para conferir pessoalmente a fama do mestre. 

  • Quais milagres opera o vosso mestre? Perguntou a um discípulo. 
  • Bom – respondeu o discípulo – Têm milagres e milagres. No seu país é considerado um milagre quando Deus realiza a vontade de alguém. No nosso país, é considerado milagre quando alguém cumpre a vontade de Deus!

A página do evangelho de Mateus deste domingo é, sem dúvida alguma, toda especial. Pode parecer, simplesmente, algo extraordinário que Jesus realizou e que os discípulos espalharam mais tarde. Assim ficou no evangelho: uma bela – e até fácil – profissão de fé, consequência de um acontecimento inédito e surpreendente.  Ou, indo além do aparente relato, esse trecho do evangelho pode ser a apresentação de uma “experiência” que foi vivida naquele tempo e que, também se de formas evidentemente diferentes, se repete ainda hoje. Continuamos a duvidar muito e, assim, sempre e de novo, precisamos segurar na mão de Jesus, cada um pessoalmente, mas, sobretudo, como Igreja-comunidade. De outra maneira, nos perdemos nos labirintos da vida.

O evangelista, através de uma linguagem simbólica, apresenta-nos uma situação que estava vivendo na Comunidade onde o evangelho dele foi amadurecido. O mar e a noite, em geral, representam, na Bíblia, todas as situações difíceis. Tempestades e escuridão sempre dão medo, mais ainda quando não sabemos como reagir, quando perdemos o controle da situação. A “barca”, onde estão recolhidos os discípulos, é a própria Igreja, agitada pelas ondas das dúvidas, das perseguições, de possíveis conflitos e divisões.

Surge, então, a pergunta, nesta hora: onde está Jesus? Abandonou a sua Comunidade? Não. Jesus chega desafiando as leis da natureza: caminha sobre as águas, porque é o Senhor que – o evangelista já sabe – ressuscitou, venceu o pecado e a morte. Ele alcança a barca. Mas, é um fantasma ou será ele mesmo? É a mesma dúvida dos discípulos a respeito de Jesus, após a ressurreição, que encontramos no evangelho de Lucas (Lc 24,37). Ele, porém, os conforta com as conhecidas palavras: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27).

Nesse momento, Pedro, que, afinal, representa todo cristão, expressa a sua dúvida e pede uma prova: quer também caminhar sobre as águas. Dessa vez, Jesus concorda e aceita o desafio. No entanto, como era de se esperar, a confiança do apóstolo é fraca, dura pouco. O evangelho diz que ele: “sentiu o vento”. Pedro, percebe a loucura do que está fazendo e a absoluta novidade do que está acontecendo. Não era possível que o “impossível” estivesse acontecendo e começa a afundar. Invoca Jesus como “Senhor”, ou seja, faz um ato de fé, e pede para ser salvo. Jesus não está longe, está bem aí, pronto a segurar a mão de Pedro até subirem, seguros, na barca. Óbvia é a reprovação de Jesus. Sobrou dúvida, faltou fé. A proclamação seguinte é igual à profissão de fé do centurião após a morte de Jesus na cruz (Mt 27,54). Só resta prostrar-se e adorar o “Filho de Deus”. O medo e a escuridão da noite desapareceram. É tempo de bonança.

A mensagem é clara: o evangelista nos convida a confiar sempre em Jesus, não importam as tempestades e os momentos de escuridão em nossa vida e na vida da barca-Igreja. Quantas vezes, talvez, pensamos que tudo esteja desmoronando, que tantos esforços e iniciativas tenham sido em vão. Essa é a nossa fraqueza: queremos ver resultados e que as coisas aconteçam segundo os nossos planos pessoais e, muitas vezes, também comunitários. Gostamos de aparecer, estamos doentes de fama e sucesso.

Ainda não entendemos que o Reino de Deus é, antes, obra dele e cresce no silêncio e no escondimento, como a semente de mostarda ou o fermento na massa. Contudo, o pior acontece quando seguramos na mão de Jesus, mas para sermos nós a conduzi-lo onde nós queremos e não o contrário. Devemos segurar sim, sempre, na mão dele, mas para nos deixar conduzir por ele. Onde for, sem medo de arriscar. Esse, talvez, seja mesmo o único milagre do qual precisamos para não afundar: sermos nós a cumprir a vontade dele. 

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