Artigo de dom Pedro: O buraco na cerca

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Reflexão para o 17º domingo do Tempo Comum

| Por dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Uma ovelha descobriu um buraco na cerca e saiu do redil. Estava muito feliz por ter fugido. Foi bem longe e se perdeu. Descobriu, então, que estava sendo perseguida por um lobo. Ficou apavorada, correu, correu, mas o lobo estava sempre atrás dela. Até que enfim chegou o pastor. Salvou a ovelha e a reconduziu ao redil. Todos disseram para ele consertar a cerca, mas o pastor não o fez. Deixou o buraco.

Com tantas parábolas de Jesus, por que mais uma historinha, tão pouco diferente daquela da ovelha perdida? É um convite a reconhecer o fio condutor das parábolas que já encontramos e das últimas que, neste domingo, concluem o discurso de Jesus. Se o pastor da nossa historinha não quis consertar o buraco na cerca foi por uma razão muito simples: foi para que a ovelha conseguisse “administrar” a sua liberdade. Ela mesma devia aprender a decidir e a assumir as consequências das suas ações. Óbvio que estamos falando de nós humanos e não de ovelhas. Se não o quisermos, não somos obrigados a ser bons. Menos ainda se o fazemos por medo ou covardia. Deve ser uma decisão bonita, grande, que revela o que realmente vale mais do que tudo para nós na vida. Todas as nossas decisões, também as pequenas e ordinárias, manifestam o que de fato estamos buscando.

Acredito que seja este o sentido das primeiras duas parábolas que encontramos no evangelho de Mateus deste domingo. Com certeza, parece-nos bastante exagerada a atitude do homem que encontra o tesouro, como também do comprador de pérolas, que vendem tudo o que têm para comprar aquele campo e aquela pérola preciosa. Para nós foram, no mínimo, imprudentes. E se estivessem enganados? Teriam perdido tudo! Mas é justamente isso que Jesus quer nos dizer. Quem errar o sentido da vida, perde tudo mesmo. Gastou à toa os seus dias, os dons que recebeu e que devia aprender a administrar.

Ao contrário, quem faz do “reino dos céus”, da sua busca e do seu crescimento, o sentido de sua vida, ficará “cheio de alegria”. Onde está a liberdade? No valor que damos ao “reino”! Se, para nós vale pouco, ficará às margens da nossa vida, só alguns minutos por semana ou uma missa ao ano. Ou talvez, todo domingo, fiéis no compromisso, mas tão distantes com a mente e o coração, que mal lembramos da Palavra de Deus ouvida e, menos ainda, da eucaristia – “comunhão” que não pode estar junto com brigas, egoísmos e divisões. O que Jesus nos pede é a coragem de tomar uma decisão sem equívocos, sem incertezas, sem arrependimentos, com muita liberdade e alegria interior. Por isso, Deus, na sua bondade nos deixa livres, porque somente uma escolha amorosa e sem constrangimentos tem valor. Confiamos tanto no Senhor que, por causa dele, estamos dispostos a arriscar o sentido da nossa vida inteira. Ou seja: do nosso trabalho, da nossa família, da nossa posição social, da nossa participação na política, no sindicato, nas lutas pela dignidade e os direitos humanos, na própria Igreja. O “evangelho do reino” ou é uma luz que ilumina todos os recantos da nossa vida ou acaba na penumbra das indecisões ou no depósito escuro dos projetos nunca realizados.

A última parábola dos peixes “bons” e dos “que não prestam” lembra aquela do joio e do trigo. Como bem sabemos, na variedade da vida tem de tudo e, facilmente, julgamos conforme as ideias e as circunstâncias do momento. Somos sujeitos a cometer muitos erros. O que parecia bom, talvez não o fosse tanto assim e o que parecia mau, na realidade, fazia parte de um projeto justo e valioso. Quantos condenados, ao longo da história, mais tarde foram chamados de herói e quantos pagaram por erros não cometidos. Primeiro entre todos o próprio Jesus, o inocente crucificado. No fim dos tempos, saberemos a verdade para o nosso arrependimento ou a nossa alegria. Jesus pergunta também a nós: “Compreendestes tudo isso?”. No entusiasmo, os discípulos responderam que sim. Mais tarde, porém, na hora decisiva, o abandonaram e fugiram (Mc 14,30). O buraco para desistir continua aberto. Cabe a nós fechá-lo de vez se acharmos que vale muito mais fazer parte do “reino”.               

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