Artigo de dom Pedro José Conti: A hora certa

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Por dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá   

Um sacristão ligava, todos os dias, para uma emissora de rádio da sua cidade para saber a hora exata. Certo dia, um dos operadores da rádio, intrigado, quis saber por que ligava para lá todos os dias. 

– Quero estar certo com a hora de meio dia, quando devo tocar os sinos da torre. Respondeu o sacristão.

 – Mas como? Rebateu o operador: – Eu regulo o relógio da Rádio com o toque dos sinos!

Afinal, quem regulava quem? Quem estava certo e quem errado? A conclusão é simples: todos precisamos de alguma coisa, ou de alguém, que nos faça sentir seguros, certos. Não para sermos dependentes, mas para ter alguma referência e não ficarmos perdidos na incerteza ou fechados na nossa orgulhosa e falsa infalibilidade.

Na primeira semana após Pentecostes, a Liturgia nos convida, todo ano, a celebrar o Domingo da Santíssima Trindade. É sempre uma oportunidade para refletir sobre algo de tão grande e misterioso que, com certeza, está acima do nosso pequeno entendimento. Não estou falando, porém, da nossa inteligência. No meio da humanidade, em todos os tempos e em todos os lugares existiram, e existem, grandes gênios, mas aqui não se trata disso. Nem é questão de ter estudado mais ou estudado menos. O que nós cristãos sabemos é o que, acreditamos, foi-nos revelado pelo próprio Deus. Com Jesus, ele, Deus, nos deixou “espiar” um pouco da sua intimidade.

O Filho feito homem, Jesus, disse que ensinava tudo o que tinha ouvido do Pai e que tudo o que era do Pai era também dele (Jo 16,13-15). Por sua vez, sempre o Filho, disse que o Espírito Santo teria lembrado “tudo” o que ele, o Filho, tinha ensinado, ou seja, nada mais disso. Dito em forma simples – e banal, me perdoem -: o Pai não tem segredos para o Filho e o Filho não tem segredos para o Espírito Santo. Todos se conhecem e se entendem maravilhosamente. 

Quando algo semelhante acontece entre nós humanos, chamamos isso de amor, porque somente quem ama não tem nada para esconder e pode abrir totalmente o seu coração à pessoa amada. Sabemos disso desde as mentirinhas de crianças. Depois, crescemos, e, infelizmente, aprendemos a mentir, fingir e enganar. Na incerteza criamos defesas, alimentamos desconfianças, cultivamos suspeitas. Muitas vezes, temos medo de amar, ou de tomar decisões importantes, porque temos receio que alguém nos manipule e aproveite da nossa boa-fé. Na primeira carta de João lemos diferente: “No amor não há temor” (1 Jo 4,18). Em Deus Trindade a comunhão de amor é perfeita, a confiança é total, não há divisão, é um único Deus. É verdade que o Filho “obedece” ao Pai, mas, custe o que custar, o faz com adesão livre e absoluta. O Espírito também não “pensa” diferente. Nos ajuda a proclamar que “Jesus é o Senhor” e ora conosco o Pai. Tudo e sempre com amor e por amor, que afinal é a única verdadeira liberdade. Somente assim ninguém depende de ninguém porque todos comungam da mesma vontade, do único projeto de amor e misericórdia em nosso favor. Nós humanos, pobres coitados, pecadores, esquecidos e ingratos. 

Quanto poderíamos aprender meditando sobre o “mistério” da Santíssima Trindade!

Entre nós funciona diferente, já sabemos. Estamos doentes para receber aplausos. Nos achamos importantes quando temos “seguidores” nas redes sociais. Bebemos avidamente de frases estrondosas quando pensamos que “todos” estejam gritando o mesmo. Espalhamos notícias “compartilhadas” por milhares ou milhões sem saber se vale a pena ou se é verdade. É mais cômodo repetir os outros que refletir com a nossa cabeça e decidir com a nossa vontade e responsabilidade. Claro que precisamos de lideranças, mas não de qualquer jeito ou somente para nos eximir das consequências das nossas escolhas pessoais. Jesus nos quer livres, capazes de colaborar entre nós, unidos e fraternos. A meta é a comunhão de amor. Temos um longo caminho a percorrer. E o relógio? Ainda bem que agora a hora certa vem pelo celular. Liberdade ou dependência?

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