Artigo de dom Pedro: Oculista ou Dentista?

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Dom Pedro José Conti 

Bispo de Macapá

Um jovem estudante recém-formado, desejava receber o conselho de um sábio eremita para escolher a faculdade universitária à qual queria escrever-se. Apresentou a sua dúvida ao homem de Deus com estas palavras: – Eu gostaria ser oculista, mas os meus parentes querem que eu seja dentista, porque dizem que se ganha mais. O que o senhor acha? – Meu fil ho – respondeu o sábio – ambas são profissões altamente remuneradas, mas lembra, os olhos são só dois, ao passo que os dentes são trinta e dois!
Mais uma brincadeira dos antigos sábios, homens de fé, sempre capazes de espalhar o sorriso ao seu redor. Contudo, aqui aparece uma questão, hoje, talvez mais que no passado, que, muitas vezes norteia a decisão dos jovens na busca do seu próprio caminho na vida: a remuneração ou compensação que seja. Vale a pena estuda r tanto para ganhar tão pouco? Quais as profissões – honestas – que dão mais lucro? Como em muitas outras situações parece que o desejo de “ganhar” esteja se tornando se não a maior, ao menos, uma das razões mais motivadoras das escolhas juvenis ou, também, daquelas pessoas que ainda buscam o seu papel na vida e na sociedade. Por isso as palavras de Jesus aos pescadores do mar da Galileia, que encontramos no evangelho de Mateus deste domingo: – Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens. – (Mt 4,19) não deixam de soar como muito diferentes, desafiadoras e, para tantos, talvez novas. Com certeza também é fácil entendê-las endereçadas aos outros, nunca a cada um de nós. Será?
Sem dúvida a página de Mateus apresenta o chamado dos primeiros discípulos. Mais tarde, Jesus escolherá “os doze”, um grupo menor entre o número maior de homens e mulheres que o seguiam. Ainda hoje entendemos que existe um chamado, uma vocação especial, para seguir Jesus assumindo, neste caso, as funções do ministério ordenado como pastores das Comunidades dentro da nossa Igreja Católica. Sempre rezamos e rezaremos para que não faltem “operários” para a messe do Senhor, ou seja, padres para servir ao Povo de Deus. No entanto, cada vez mais hoje entendemos que os convites de Jesus têm reflexos e valor, digamos, para todos e todas. Algo semelhante acontece, por exemplo, com a paternidade e a maternidade. Tantos homens e mulheres são pais e mães – e não só espiritualmente – porque amam e server irmãos e irmãs que precisam deles de uma maneira tão amorosa e familiar que, quase, disputam o afeto com os pais e as mães biológicos. Assim também na Igreja, hoje falamos muito de missão, de sermos, nós todos batizados “missionários”, enviados a dar o testemunho da alegria do Evangelho com a nossa vida lá onde as circunstânci as nos c olocaram. Ser “pescadores de homens” ou, digamos, “missionários”, não significa “arrebanhar” pessoas para o nosso grupo, movimento, comunidade ou mesmo Igreja. Ser missionários é, a meu ver, muito mais a capacidade de “lançar as redes para águas mais profundas” para alcançar quantos ainda não ouviram falar de Jesus ou ouviram falar dele tão mal e de maneira tão distorcida que ele foi rejeitado mesmo antes de conhecê-lo de verdade.
Estou convencido que a recusa da Boa Nova de Jesus, a rejeição da sua pessoa e da sua mensagem, não dependem da inutilidade ou banalidade da proposta dele, mas, decididamente, da maneira como ela lhes foi apresentada, através do testemunho daqueles e daquelas que declaram acreditar nele. Com certeza a culpa não é do Evangelho em si, porque , ainda hoje, ele motiva e anima a doação da própria vida de milhares de homens e mulheres por causa do Reino de Deus. A culpa das redes estar vazias, é nossa. Ficamos calculando as perdas e os ganhos. Estamos preocupados com a opinião dos colegas, de sermos apontados como beatos ou beatas, servidores de um lendário rei de outros tempos. Ao contrário, não temos receio de dizer que queremos ganhar a qualquer custo, que nos atraem as profissões mais lucrativas, melhor ainda se com bastante dias de folgas e muitos privilégios. A questão não é ser “oculistas ou dentistas”, mas querer amar e servir mais, lavando os pés a quem precisa. Sem cálculos.

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