Artigo de dom Pedro: Roupa de médico

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Foto: Google Imagens
| Por dom Pedro José Conti | Bispo de Macapá

Gilberto era um médico que trabalhava numa ambulância. Nunca se preocupava muito com o seu modo de vestir. Queria usar roupas confortáveis que facilitassem o seu trabalho na hora de socorrer vítimas. Certo dia, uma senhora muito bem vestida foi em direção à ambulância e perguntou, com um ar de superioridade e grosseria, onde estava o médico.

– Boa tarde, senhora. Em que posso ser útil – respondeu Gilberto.

– Você é surdo? – replicou a mulher – Não ouviu, quero saber onde está o médico.

– Pois não, senhora, o médico sou eu, em que posso ser útil – voltou a repetir Gilberto.

– O quê? Você é o médico? Com esta roupa, eu não ia descobrir nunca.

– Desculpe, senhora, eu achei que estava procurando um médico e não um terno.

– Desculpe, doutor, mas assim vestido…

– Sabe que eu pensei a mesma coisa vendo a senhora. Uma mulher tão elegante, com belas roupas. Pensei que ia sorrir, nos cumprimentar e desejar bom dia a todos nós. Mas não foi assim. Tem que reconhecer mesmo que a roupa não diz muita coisa, não.

Uma pequena história para tentar responder a uma pergunta curiosa: o que João Batista viu em Jesus para declarar: – Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo? Com certeza muito mais que a roupa com a qual Jesus estava vestido. O que ele viu e entendeu de Jesus? Ele mesmo responde que viu descer e permanecer sobre ele o Espírito Santo. Por isso logo acrescenta: “ Este é o Filho de Deus!”.

No início deste breve Tempo Comum, antes da Quaresma, encontramos esta página do evangelho de João. No próximo domingo, voltaremos ao evangelho de Mateus. Sabemos que o quarto evangelho foi o último a ser escrito e apresenta os resultados de uma minuciosa reflexão teológica. Cada página é um concentrado de referências ao Antigo Testamento e, ao mesmo tempo, uma extraordinária novidade de formas para expressar o anúncio da fé cristã. É o evangelista João, por exemplo, que chama Jesus de “Palavra” que se fez carne, de Luz do mundo, de Caminho, Verdade e Vida. Essas e outras, são todas “palavras” que já apareciam nas Escrituras, como promessas, mas agora levadas ao cumprimento, à plenitude, na pessoa de Jesus, chamado de “Filho de Deus”.

Nas palavras pronunciadas por João Batista está, portanto, uma pequena e maravilhosa “síntese” da missão de Jesus. Finalmente, chegava aquele que ia “tirar o pecado do mundo”, capaz de vencer o mal e a morte, para devolver a esperança do perdão e da paz à humanidade pecadora. Para a Bíblia, antes dos pecados dos quais nós, de uma forma ou de uma outra, somos responsáveis, existe “o pecado do mundo” que é, afinal, a recusa do amor de Deus, a orgulhosa desobediência do ser humano que sempre cai na tentação de querer “ser como Deus”. Depois, no tempo de Jesus – que é agora o nosso tempo – “o pecado” é a rejeição do próprio Cristo, a Palavra-Luz: “Veio para o que era seu, mas os seus não a receberam (Jo1,11)”. “E a luz brilha nas trevas, e as trevas não a dominaram” (Jo1,5). Também, para o evangelista João, Jesus é o “novo” cordeiro da “nova” Páscoa, da “nova e eterna Aliança”. Na cruz se cumpre a Escritura: “nenhum dos seus ossos lhe será quebrado” (Jo 19,36), justamente como devia ser para o cordeiro na noite da saída do Egito e do seu memorial (Ex 12,10.46; Nm 9,12).

A conclusão é simples: mais uma vez somos convidados a aprimorar o nosso olhar a Jesus. Ao longo do ano litúrgico, iremos lembrar tantas circunstância e eventos da sua vida. Iremos ouvir de novo tantas das suas palavras. No entanto, a luta entre a luz e as trevas continua. Sabemos e acreditamos que a vitória final será da “luz verdadeira, que vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo1,9), mas a cada dia precisamos acolhê-la novamente e deixar que seja luz para as decisões que tomamos continuamente. Numa hora de dúvida a quem recorrer? A quem perambula na escuridão da existência, também se aparenta saber tudo e ter a solução para tudo? Cabe a cada um de nós escolher por qual “luz” orientar-se. Que seja, por enquanto, ao menos, um peregrinar “na penumbra da fé”. Melhor desconfiar das roupagens bonitas, elas enganam.

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