Artigo de Dom Pedro: Este padre é louco

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Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

São Filipe Neri era famoso pela sua capacidade de brincar e fazer sorrir. Todos o chamavam de “bom”. Por isso, como gesto de humilhação e para evitar que o bajulassem ou honrassem pela sua “santidade”, resolveu que, por uma semana, ia tirar a barba dele somente de um lado do rosto. O resultado foi óbvio. Todos aqueles que o encontravam riam de bom gosto e diziam: “Este padre é doido varrido! Devia ser internado”. Mas o alegre Filipe Neri, dentro de si, ficava feliz pelas gargalhadas dos outros.

Com o domingo do Batismo de Jesus concluímos o tempo litúrgico do Natal. Jesus, num gesto de extrema humildade e solidariedade, entra na fila dos pecadores e recebe o batismo de penitência oferecido por João Batista. A pomba que pousa sobre ele indica a presença do Espírito Santo e a voz do Pai confirma que aquele homem é o “Filho amado”. Todos os evangelistas são unânimes em nos dizer que, após este momento, inicia a vida pública de Jesus. O Pai o enviou e o Espírito Santo vai guiá-lo, nas palavras e nas ações, até a sua paixão, morte e ressurreição, em Jerusalém. O batismo no Jordão marca uma mudança decisiva na vida dele. De agora em diante, será um “mestre” itinerante chamando discípulos a segui-lo. Para alguns, será um profeta com palavras nunca ouvidas, palavras de “vida eterna”. Para outros, será julgado um falso profeta por vir da periferia, de Nazaré. Enfim, será considerado blasfemo, mas útil para dar uma lição exemplar aos facínoras, aos rebeldes, aos fora da Lei. Alguns o chamaram de louco e endemoninhado. Ao vê-lo morrer na cruz, o centurião romano dirá: “Verdadeiramente, este era Filho de Deus” (Mt 27,54). As mesmas palavras do Pai, no dia do batismo. A cruz de Jesus permanecerá para sempre “loucura” para os pagãos, “escândalo” para os judeus, mas sabedoria e poder de Deus para os que acreditam (1 Cor 1, 23-25).

Neste domingo, a Igreja nos convida a lembrar o nosso batismo, não mais de penitência, mas de vida nova na Trindade Santa. Fomos batizados “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Após aquele dia, também nós deveríamos ter iniciado uma vida diferente, como cristãos, conscientes do dom recebido e da missão que nos foi entregue: continuar a anunciar a alegria do Evangelho e testemunhar, com a nossa vida, a presença do Reino de Deus. Vale a pena parar para lembrar e refletir. O nosso batismo, a nossa consciência de sermos cristãos, mudou e muda algo da nossa maneira de pensar, dos valores que norteiam a nossa vida, dos compromissos que assumimos em família e na sociedade? Tem alguma vez que somos chamados de loucos – se não na nossa frente, ao menos por trás – por causa da nossa fé? Estou falando sério. Não está em jogo o sermos exteriormente diferentes, ou não, dos outros, mas a diversidade radical com tudo aquilo que podemos chamar de “mundo”, no sentido evangélico da palavra. A primeira questão é, justamente, o valor que damos aos bens materiais, ao dinheiro e às demais posses. Jesus disse para “buscar” primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, o resto nos será dado por acréscimo, como dom da sua bondade. Ao contrário, muitos hoje se acham os donos de tudo, até do planeta que, porém, já encontramos feito e não, com certeza, para o nosso consumo exclusivo.

A segunda questão, talvez, seja aquela do orgulho que temos com as nossas ideias, a nossa interpretação da vida, da sociedade e até de Deus. Nos achamos tão importantes e sabidos para julgar o que está ao nosso redor, os acontecimentos e as pessoas. Um pouco mais de humildade nos faria bem. Talvez só olhando mais os pássaros do céu, os lírios dos campos…as maravilhas de Deus, enfim, mais do que sempre as nossas obras. Por fim, quero lembrar o tempo, como o administramos e o gastamos. Parece que temos tempo para tudo, mas bem pouco para agradecer a Deus, celebrar a nossa fé aos domingos, na comunidade, entre irmãos e amigos. Nem vou falar dos pobres. Falta um pouco mais de “loucura” como fruto do nosso batismo tomado mais a sério e menos como brincadeira, costume ou tradição. Falta coragem, sobra medo de sermos chamados “loucos” por causa de Cristo.

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