Artigo de Dom Pedro

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Nossa Senhora ´missionária´?

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

Maria, que hoje, no domingo do Círio, chamamos de Nossa Senhora de Nazaré, foi “missionária”? Acredito que Maria não só foi missionária como também ensina a todos nós a sermos verdadeiros missionários. Primeiro, porque ela teve uma missão, grande e extraordinária a cumprir e a cumpriu até o fim. Ela foi chamada a participar de um projeto divino único e irrepetível: ser a mãe humana de Jesus, o Filho de Deus feito carne como nós. A nossa fé proclama Jesus verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Isso aconteceu porque o Filho de Deus, pessoa de natureza divina, através da colaboração de Maria, assumiu também a natureza humana. Nossa Senhora cumpriu essa “missão” com humildade e escondimento. Ou seja, se colocou inteiramente a serviço da missão, sem se preocupar com sucessos ou vantagens pessoais. O Divino Pai Eterno a premiou com a glória do céu e nós a contemplamos jubilosos invocando-a como mãe, rainha e intercessora.

Contudo, Maria foi “missionária” por outras razões e ainda hoje continua a sua missão. Por exemplo, entendemos que aquele, ou aquela, que for enviado, ou enviada, deve ter algo para levar. Às vezes é coisa material ou exterior, como cultura, ciência, saberes, mas muito mais deve poder oferecer algo que seja fácil de carregar, porque está dentro dele e chega junto com sua pessoa; este tesouro será a sua própria fé, meditada, refletida, aprofundada no silêncio e na oração. O evangelista Lucas diz que Maria “guardava os acontecimentos em seu coração”. E Isabel exclama: “Feliz, aquela que acreditou”. A primeira riqueza de Maria, portanto, e que estava dentro dela, foi a sua fé pela qual não hesitou em responder o seu sim. Esse bem, porém, não ficou só para ela, soube partilhá-la. Com efeito, o missionário é alguém que vai, desloca-se, também se não necessariamente a grandes distâncias. O que importa é que a pessoa saia do seu comodismo, das suas ideias e costumes e se disponha a encontrar irmãos e irmãs em situações diferentes. Com essa ação, o missionário se aproxima, ou seja, se torna próximo do outro. Maria foi a encontro da parenta Isabel, andou até às montanhas da Judeia para, as duas juntas, cantarem as maravilhas de Deus. Mas, Maria fez outra viagem, muito mais difícil, humanamente falando, mas extraordinária pelo amor. Esteve em Jerusalém, durante a paixão do seu filho e, aos pés da cruz, o viu morrer, condenado e vilipendiado. Foi a grande prova da fé de Maria, sem dúvidas, mas também a grande manifestação do seu amor por aquele filho, abandonado pelos discípulos, mas nunca pela mãe e pelas poucas outras piedosas mulheres. Estar próximos de Jesus na cruz, ainda hoje significa reconhecê-lo nos pequenos, nos sofredores e crucificados da vida e da sociedade. Sofrer com quem sofre é uma missão que poucos entendem e valorizam, fascinados como somos pelos aplausos das massas e a apreciação dos amigos ricos e poderosos.

Nossa Senhora continua “missionária” também por uma outra grande razão. É obrigação de todo missionário se esforçar para viver aquela que chamamos de “enculturação” ou seja aprender a conhecer e amar o jeito do povo ao qual ele foi enviado. O missionário deve encontrar uma linguagem que, seja fiel ao Evangelho, que não pode ser mudado, e, ao mesmo tempo, respeite a cultura local para poder ser compreendido. Maria faz isso todo dia. Basta pensar que os artistas de todos os países e culturas, onde o Evangelho chegou, podem apresentá-la com as feições e as cores das raças, a roupa das mulheres e o carinho das mães carregando os seus filhos. Por isso, existem diferentes e incontáveis imagens da única Nossa Senhora, porque assim ela pode ser reconhecida pelo povo que a invoca com tantos nomes. Além das imagens, os povos têm os seus cantos marianos, as suas melodias e as suas danças. De muitas formas, as sementes do Evangelho se espalham, crescem e produzem frutos antes impensáveis. Rezemos para que Maria, Nossa Senhora de Nazaré, seja também “missionária” para nós, acalente os nossos corações, reavive a fé de todos, entre em nossas casas e abençoe a nossa Amazônia.

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