Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Artigo de Dom Pedro

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

O ganhador

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Chegou o dia tão esperado dos Jogos da Juventude, uma competição esportiva entre os alunos dos colégios da cidade. João Pedro com os seus 14 anos, alto e for te, sabia que tinha chance de ganhar, na corrida, a prova de velocidade. Mário, seu colega, era, porém, o seu maior adversário. Era mais baixo, mas muito rápido. Os pais dos alunos enchiam as arquibancadas do estádio e torciam por seus filhos. A primeira prova foi dos 200 metros rasos. João Pedro correu bem, passou na frente e ganhou de Mário. Ficou feliz pela medalha e os aplausos. Depois, houve a prova dos 100 metros. João Pedro estava lá para correr e Mário também. De novo, ele partiu bem e estava decididamente na frente, mas, quando faltavam poucos metros para a chegada, parou e deixou a corrida. Assim Mário ganhou. Depois da premiação, os pais de João Pedro lhe perguntaram:
– Por que você fez isso? Teria ganho novamente!
– Certo, mãe, mas eu já tinha uma medalha e Mário nenhuma!< /span>
Palavras bonitas. Foi coisa de adolescente ou gesto singelo de amizade?

O evangelho deste domingo, Lucas nos propõe uma grande lição de humildade de duas formas diferentes. A primeira diz a respeito aos lugares dos convidados numa festa. Naque le tempo, como hoje, quem se achava importante queria, evidentemente, alguma posição de destaque. Queria, de fato, que todos os demais presentes reconhecessem o seu valor. No entanto, Jesus alerta que, num evento, sempre pode chegar alguém ainda mais importante e que os donos da festa lhe peçam para ceder a ele, ou a ela, o primeiro lugar, conforme os critérios mundanos da fama, do sucesso, da riqueza ou da posição social. Nesse caso, com os lugares ocupados pela lógica da ambição, só poderiam ter sobrado as últimas vagas. Seria um rebaixamento vergonhoso para quem se considerava merecedor de atenção. Jesus sugere agir de maneira contrária. Melhor escolher o último lugar, assim, se o dono da festa achar por bem colocar você mais na frente, esse reconhecimento será uma honra. Autoestima é ter consciência do valor e da dignidade própr ia e de cada ser humano; não significa, porém, avaliar-se acima da realidade e, no fundo, ser obcecados pelo orgulho de si mesmo.

Na segunda parte do evangelho, Jesus continua o seu ensinamento. Um belo sinal da humildade verdadeira de uma pessoa aparece quando ela organiza, por exemplo, uma festa. Se convida os amigos r icos, ou somente pessoas importantes, significa que ela também se considera parte desta classe social “superior”. É fácil distribuir honrarias, elogios e favores quando se espera receber de volta tudo o que foi dado. Isso não tem nada a ver com generosidade, simplesmente foi um agradar quem poderá devolver até mais no momento oportuno. Para os seguidores de Jesus deveria ser diferente, eles não devem agir acompanhando os critérios deste mundo. Devem aprender com Deus, que é generoso com todos, e com ele mesmo, Jesus. O discípulo deve agir com gratuidade, sem esperar recompensa. Acontecerá assim somente se convidar para um almoço ou um jantar os pobres, os pequenos, os que nunca terão como lhe dar algo em troca.

Nesse caso, sim, será pura generosidade, porque o amor verdadeiro viaja de mão única. Se esperar algo em troca, terá mais o gosto de interesse que de doaç&at ilde;o. No entanto, o próprio Jesus fala em recompensa. Certo, mas essa “recompensa” não será a curto prazo e nem calculada. Será o prêmio que Deus Pai reservará para os seus “filhos”, ou seja, aqueles que, de alguma forma, mesmo sem saber, doaram algo aos irmãos pela simples e maravilhosa alegria de fazê-los felizes. Humildade, portanto, é acreditar que somos muito amados sem merecer, que já recebemos muito e, por isso, procuramos aprender a doar, ao menos um pouco, do que nos foi derramado com largura no coração. Melhor perder uma medalha e ver o outro sorrir que estufar o nosso peito de orgulho. Uma “derrota” útil, porque se transforma em grande vitória sobre a nossa inútil soberba.

Mais Artigos