Artigo de Dom Pedro

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Depois do assalto

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

O professor Mateus estava voltando para casa. Na esquina, quando faltavam poucos metros, tomou um susto. Um ladrão lhe apontou o revólver e lhe intimou de entregar a carteira e a bolsa. Tremendo de medo, lhe deu tudo. Ainda com o coração fora do controle, conseguiu chegar em casa, foi direto para o seu quarto e escreveu esta oração: “Senhor, hoje fui roubado. Sinto que devo te agradecer por muitas coisas. Antes de mais nada, te agradeço por não ter sido assaltado antes. Numa sociedade como a nossa, isto é quase um milagre. Depois quero te agradecer porque na carteira tinha pouco dinheiro e na velha bolsa somente papeis. Quero te agradecer, Senhor, porque a minha esposa e a minha filha não estavam comigo. Teriam se assustado muito e também pelo fato que agora não estão chorando por mim. Enfim, Senhor, quero te agradecer porque eu fui o assaltado e não o ladrão.”

Um exemplo de oração espontânea, num momento difícil. Não foi uma oração decorada, mas algo que veio de um coração agradecido. Nem sempre e nem todos encontramos as palavras para rezar. Na incerteza, também os apóstolos pediram a Jesus de ensinar-lhes a rezar. É o que encontramos no evangelho de Lucas deste domingo: a oração do Pai Nosso e algumas orientações de como e porque devemos rezar.

A primeira atitude do cristão vem do início da própria oração. Deus é chamado de Pai e é pai de todos, é o “nosso Pai”, nunca somente o meu ou o teu. Sempre o nosso, porque um Deus Pai ama todos os seus filhos e estes, que somos nós, devemos nos reconhecer e tratar como irmãos amados. Apesar de cada um de nós termos as nossas dificuldades e o nossos pedidos pessoais, nunca devemos esquecer de rezar e interceder juntos, em comunhão. Com efeito, também o restante da oração é um conjunto de pedidos comuns a todos: o pão, o perdão e a capacidade de perdoar, a libertação do fascínio do mal. Somente assim virá o Reino da paz, da justiça e do amor. Teimamos a usar o “eu” em vários cantos e orações, mas, prestando atenção, não foi isso que Jesus ensinou. Apesar das boas intenções, pedidos “individualistas” demais podem dar a impressão de sermos os únicos sofredores, os únicos adoradores, os únicos apaixonados por Jesus. Ao contrário, ao usar o “nós” aprendemos novamente a solidariedade, também nos pecados, muitos dos quais são claramente “sociais” porque fruto da nossa indiferença e descaso.

O restante da página do evangelho deste domingo parece um convite a pedir com insistência até chegar à ousadia inoportuna do vizinho atrás de pão para um amigo chegado de noite sem aviso. Claro que a nossa oração não pode ser somente feita de pedidos, precisamos também agradecer e louvar, mas Jesus, neste trecho, ensina mesmo a pedir. Por quê? Porque quando pedimos reconhecemos a nossa pobreza. Não devemos pedir por causa da nossa indolência ou acomodação querendo que Deus faça o que, na realidade cabe a nós. Não é por acaso que, antes da distribuição milagrosa dos pães e dos peixes, Jesus disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Lc 9,13). A capacidade de repartir sempre faz acontecer o extraordinário. Mais ainda. Quando pedimos a Deus estamos declarando a nossa confiança nele. Temos certeza que nos dará o melhor para nós, justamente como qualquer pai deste mundo deveria fazer com os seus filhos. Também o estamos louvando porque o chamamos com o melhor nome que Deus pode ter: Pai. Os demais títulos ou qualificações de Deus ressoam como enfeites face à sua bondosa, providente e universal paternidade. Por fim Jesus nos ensina a pedir mais um “dom” que o Pai será bem feliz de dar: o Espírito Santo. Com efeito, este é o último dom de Jesus, aos seus amigos, na cruz e ao anoitecer do dia de Páscoa, segundo João, ou ainda no Pentecostes, segundo Lucas. Por sua vez o Espírito Santo, segundo Paulo, ajuda os fiéis a proclamar que “Jesus é o Senhor” (1Cor 12,3b), a clamar a Deus como “Abbá, Pai!” (Rm 8,15) e, com gemidos inexprimíveis, vem em socorro à nossa fraqueza porque nem sabemos o que pedir (Rm 8,26).

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