Artigo de Dom Pedro Conti

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O ritual
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Uma tribo de índios da América do Norte tem um “ritual” para marcar a passagem da adolescência para a idade adulta. Quando o rapaz completa os anos estabelecidos, o pai o leva à mata. Com um pano, venda os olhos dele. Depois o deixa sozinho, sentado num toco de árvore. O jovem deve ficar naquela situação a noite inteira e não pode tirar a venda até ao amanhecer. Não pode pedir ajuda para ninguém. Se resistir, ao nascer do dia, será proclamado homem. Aquela noite é de grande medo para o rapaz. Escuta ruídos estranhos, assobios e rangidos, animais que se arrastam, lobos que uivam, murmúrios e grunhidos, lutas ferozes na moita. O jovem só tem a sua coragem. Aperta os punhos e aguenta, sentado no tronco, com o coração na boca. Finalmente, depois daquela noite terrível, o sol aparece e ele pode tirar a venda. Somente naquele momento descobre que o pai estava ali por perto, sentado num tronco vizinho. O pai, não tinha saído, tinha ficado a noite inteira em silêncio, para proteger o filho de qualquer possível perigo, mas sem que o filho pudesse percebê-lo.

No quarto domingo de Quaresma, encontramos uma das páginas mais bonitas dos evangelhos e, também, uma das mais desafiadoras. Jesus é questionado, pelos fariseus e os mestres da Lei, sobre a aproximação que tinha com os pecadores. Ele responde com a parábola “do filho pródigo”, ou, mais propriamente, “dos dois filhos” ou “do pai misericordioso”. Qualquer seja o título que vamos dar a esta parábola, dos três protagonistas, o mais surpreendente é, com certeza, o pai. De fato, o filho mais novo representa a busca da liberdade na ilusão de encontrá-la o mais longe possível de qualquer autoridade ou controle. Para muitos, ainda hoje, ser donos de si mesmo, poder satisfazer os próprios impulsos e caprichos. Não ter que prestar conta da própria vida para ninguém, é sinônimo de liberdade orgulhosamente alcançada. Do lado oposto, está o filho mais velho, rigorosamente obediente e conformado com a situação de trabalhar na casa do pai. Na realidade, ele esconde uma grande insatisfação: acha que o pai não reconhece, como deveria, o seu serviço. Cultiva, também, rancor com o irmão, não porque foi embora, mas porque levou a parte da herança que assim foi perdida. Só deu prejuízo.

Entre os dois filhos está a figura do pai, aparentemente, silencioso. Não questiona a escolha do filho menor; ao contrário, lhe entrega a parte legítima da herança. Igualmente, sabemos só no final, estranha o ódio do filho mais velho com o irmão. Esse filho estava em casa, trabalhavam juntos, mas não sabia que era considerado por ele mais um padrão exigente que um pai amoroso. Com essa parábola, Jesus quer nos fazer conhecer a grandeza da misericórdia do Divino Pai eterno. Ele é tão paciente que não intervém a cada instante para nos corrigir. Aguarda que cada um de nós perceba o que perdeu deixando a casa paterna. Igualmente, espera que aprendamos, com ele, a acolher sempre de novo, de volta, os irmãos, sem julgá-los, condená-los e, com isso, excluí-los do perdão e do amor fraterno. Nunca o Pai ficou indiferente. Simplesmente estava esperando para festejar, todos juntos, a volta do filho menor e a decisão do filho maior de se comportar, também, como irmão e não como adversário do outro. Um Pai que nada diz no início da parábola, mas depois fala no abraço ao filho que voltou e não deixa de explicar o porquê de tanta alegria ao outro filho, incapaz de perdoar. Entendemos que é uma parábola desafiadora para todos nós. A cada momento, podemos ser os filhos que menosprezam o Pai e dele só sabemos cobrar a herança ou o cabrito. Também podemos ser interesseiros: querer os favores dele para nós, mas considerar injusto o seu perdão com quem, no nosso mesquinho entender, mereceria um castigo exemplar. A capacidade de perdoar é uma “prova” de maturidade cristã para todos nós. Até não aprendermos a prática da misericórdia continuaremos imaturos. Por que ter medo de ser bons? Devemos fazer a nossa parte, mas não estamos sozinhos na escuridão da floresta da vida. Na luta do bem contra o mal, o Pai nunca abandona os seus filhos.

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