O Papa é gordo

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Arte: Amarildo Charges |Caricatura Papa João XXIII

Por: dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Conta-se que o bom Papa João XXIII, hoje santo, era muito espontâneo e brincalhão. Certo dia, quando ele visitava uma paróquia da cidade de Roma, andando pelo meio do povo, escutou uma senhora dizer à outra:

– Nossa, como o Papa é gordo!

João XXIII ouviu, mas não ficou desapontado e nem envergonhado. Parou, pediu licença às senhoras, e disse:

– Minhas filhas, o Conclave (que é a reunião dos Cardeais para eleger um novo Papa) não é um concurso de beleza. E continuou o seu caminho sorrindo.

Uma simples anedota para dizer que a missão do Papa – e podemos dizer de todo cristão e cristã – não depende do conjunto das aparências exteriores. Bem sabemos que o Senhor olha o coração, ou seja, o amor das pessoas. De outra forma, não entenderíamos aqueles que são enviados e, também, quem acolhe ou rejeita os mensageiros.

No evangelho deste domingo, encontramos Jesus enviando os doze em missão. Os envia na pobreza e na simplicidade. Devem ir sem nada, no maior despojamento, e a mensagem é somente um convite à conversão. Deve ficar claro a todos que o que vale não são os missionários em si, mas a Boa Notícia que eles levam e querem comunicar.

O evangelho de Marcos nos relata bastantes palavras de Jesus, mas quando diz que ele “ensinava” não explica, nos detalhes, todo este ensinamento. Já vimos que ele usava parábolas e essa maneira de falar convidava os ouvintes a enxergar o Reino, além das situações apresentadas. Isso valia, também, com as devidas diferenças, para os que chamamos de gestos e milagres. Expulsar os demônios, curar os doentes e ungir com óleo, foram alguns dos sinais do novo que estava chegando e foram interpretados de maneiras diferentes. Ainda hoje, muitos são tocados por um discurso, um gesto ou uma cura de Jesus, mas ficam presos por aí. Acabam discutindo à exaustão sobre cada questão. Isso fizeram, também, os adversários dele, que se pegaram a alguma palavra e o condenaram. No fundo, aqueles e aquelas que encontravam Jesus deviam decidir se acolhiam ou não a pessoa dele, toda inteira, e não somente alguma parte que podia confirmar as suas ideias ou os seus interesses. Os Evangelhos não são o relato das façanhas do Mestre, mas um convite a acreditar nele e a segui-lo no mesmo caminho difícil da cruz que leva à vitória sobre o mal, o pecado e a morte. É ele o Caminho que conduz à Verdade e à Vida.

Luxo, organização, estruturas, dinheiro e mais coisas exteriores, que sempre tanto nos atraem e fascinam, tornam-se perigosas quando nos afastam da pessoa de Jesus. Quando elas substituem a fé e a confiança nele, acabam sendo um obstáculo à evangelização. Ao contrário, a pobreza dos enviados, em lugar de ser um empecilho ou uma desculpa para desistir da missão, torna-se um verdadeiro sinal: é somente a Boa Notícia que os move e motiva. Outro detalhe que deve chamar a nossa atenção é o fato dos missionários serem enviados “dois a dois”. As duplas são o início de uma comunidade que deve alimentar-se com a amizade e a fraternidade. No Evangelho de Mateus, dois é o número mínimo de discípulos para que o Pai acolha o pedido deles e Jesus esteja no meio (Mt 18,19-20). Por fim, é importante a permanência dos doze nas casas que os acolhem. A convivência, a generosidade e a partilha são parte da mensagem.

A primeira conversão para todos é aquela de querer entender, mais profundamente, o sentido da nossa vida. Isso exige tempo e a experiência de caminhar juntos. Se a questão fosse vender um produto, Jesus teria proposto algo mais atrativo que a simplicidade. A propaganda sempre quer nos convencer da conveniência do negócio e da pressa de decidir para não perder a oportunidade. Já sabemos tudo isso, no entanto sempre caímos no consumo e na descoberta seguinte que, desfeita a embalagem, talvez não valia a pena comprar aquele objeto. A fé e a opção de seguir a Jesus envolve toda a nossa vida, dá sentido ao nosso amar, sofrer, servir, esperar. O testemunho do mensageiro não depende do tamanho ou da beleza dele ou dela. Depende somente da sua entrega amorosa à missão. Ao resto pensa o Espírito Santo.

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