Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Somos bastante criativos

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

Somos bastante criativos
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Li numa revista que, pelo mundo a fora, existe um site que ajuda os maridos a encontrar uma boa desculpa para ter uma vida dupla ou viver uma aventura extraconjugal. O site foi criado, especialmente, para vender aos clientes “provas” do seu bom comportamento. São álibis como: a conta de restaurante, uma passagem de uma viagem de avião (não realizada), um convite, um pequeno recorte de jornal e assim por adiante. Os idealizadores do site afirmam: “Somos bastante criativos, não há problema que não se possa resolver”. O site ainda oferece três opções de idiomas: inglês, francês e alemão, e a garantia de que as provas serão bem sólidas, sem deixar brechas para dúvidas. Na propaganda, não estava especificado o preço do serviço. Também não dizia se já atendem mulheres e, o mais importante, em português. Só vale lembrar que, às vezes, pensamos que uma mentira contada para encobrir outra, afinal, se torne, ou se pareça, com a verdade. Será mesmo?

No domingo seguinte à Solenidade de Pentecostes, a liturgia sempre nos convida a refletir sobre aquele que nós, cristãos, chamamos de “mistério” da Santíssima Trindade: um único Deus, em três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nós acreditamos que foi dessa maneira que, aos poucos, o nosso Deus se fez conhecer. Na Bíblia, já no Antigo Testamento, Deus foi apresentado, no seu jeito de agir e querer, como o Deus libertador, o Deus da Aliança com o povo eleito. Raramente, o Todo Poderoso recebeu o título de “pai”. Foi o Filho, que assumiu a natureza humana em Jesus de Nazaré que nos falou de Deus Pai, um pai bondoso, providente e misericordioso. Pai de todos, ao ponto que podemos rezar chamando-o de “Pai nosso”.

O evangelista João elaborou uma trabalhada apresentação do relacionamento do Pai com o Filho. Jesus repetia que vinha do alto, que estava obedecendo ao Pai e dizendo aquilo que tinha ouvido dele. Deviam acreditar. Os judeus, porém, pediam, ao menos, duas “testemunhas” como em qualquer depoimento jurídico. Era o mínimo necessário para confirmar a verdade das afirmações. Jesus respondia que, além dos sinais que fazia, era o Pai a dar testemunho dele. Em certas ocasiões, como no batismo no Rio Jordão e na Transfiguração, foi a voz do Pai que disse: “Este é o meu Filho amado”. Jesus também fala do Espírito Santo que virá, quando ele voltar para o Pai. O Espírito Santo, o Consolador e Defensor, lembrará as coisas que ele, Jesus, o Filho, ensinou e conduzirá os fiéis no conhecimento da verdade.

Podemos chegar à conclusão que entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo não têm segredos, tudo é em comum, também se cada um tem uma missão própria. A Igreja, comunidade dos cristãos, que anuncia a fé trinitária, deve mostrar algum traço visível do mistério trinitário. O faz quando vive e pratica a unidade e o relacionamento construtivo entre as pessoas. É fácil entender a necessidade da comunhão. Com certeza, divisões e disputas não ajudam a manifestar a beleza da nossa fé. A nossa união deve ser reflexo da Trindade, não o fruto de ideias, projetos ou seguimento cego de alguns líderes mais ou menos carismáticos. Mais difícil é a partilha da nossa experiência de fé, esperança e caridade. Fazemos muitas atividades e celebramos muitas missas, juntos, mas poucas vezes trocamos os nossos sentimentos e a nossa vivência espiritual. Ainda não aprendemos a fazer isso ou temos receio que os outros zombem da nossa contemplação, da alegria de servir, da paciência que temos sabendo que os tempos das pessoas e de Deus não são os nossos, apressados ou demorados que sejam. Além de brigar entre nós, de desistir após a primeira crítica, parecemos estranhos que, pelas circunstâncias acabaram fazendo parte do mesmo grupo que se encontra na tal igreja. Bem pouco, porém, temos em comum. Desse jeito é difícil convencer os que olham para nós, com curiosidade ou crítica, que acreditamos no mesmo Deus, Uno e Trino. Somos sempre muito criativos para desculpas e justificativas. Precisamos melhorar a nossa imaginação e a nossa prática para vivermos mesmo a fraternidade e a comunhão.

Mais Artigos