A lógica da serpente

A lógica da serpente

A lógica da serpente

A lógica da serpente

A lógica da serpente

A lógica da serpente

A lógica da serpente

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

A A lógica da serpente

Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Neste domingo, juntam-se muitas celebrações. Para o calendário litúrgico, é a Solenidade da Ascenção do Senhor. Para a nossa Igreja é, também, o Dia Mundial das Comunicações Sociais e para todas as famílias é o Dia das Mães. Quando é assim, tenho que escolher. Não dá para falar de tudo ou misturar. Peço desculpa às mães se, desta vez, as deixarei um pouco de lado. Por falta de espaço, não de assuntos ou de respeito. Ao contrário, tenho maior consideração com as mulheres que, apesar das dificuldades, da pobreza e, às vezes, da violência, levam até o fim a gestação e doam a vida aos seus filhos. Todo ser humano deve a sua existência àquela mãe que o carregou no seu ventre por nove meses. Deveria agradecer muito por isso e, mais ainda, se foi bem cuidado, educado e cresceu em segurança e paz.

Aproveitarei do Domingo da Ascenção e da mensagem que Papa Francisco nos dirigiu sobre algo que nos preocupa a todos: as notícias falsas, ou destorcidas, espalhadas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais.

Na primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, escutamos as palavras de Jesus que, ao se despedir dos apóstolos, os envia para serem “testemunhas” “até os confins da terra”, ou seja, em todo lugar e até a história humana perdurar. Os seguidores de Jesus sempre terão a “boa notícia” dele – o evangelho – para oferecer a quem encontrar nos caminhos da vida. Eles terão que ser os primeiros a acreditar na verdade do anúncio que irão divulgar, no valor e na novidade absoluta desta comunicação. Alguns dos ouvintes irão acreditar, outros ficarão indiferentes, outros, enfim, irão combatê-la como absurda, falsa ou prejudicial ao bem da sociedade. A fé e o martírio sempre caminharam e, ainda hoje, caminham juntos. Mas a missão da evangelização, apesar dos obstáculos e das mudanças de época, não pode parar. Em nossos dias, temos grandes possibilidades de comunicação. Ficou mais fácil anunciar o evangelho? Talvez, hoje, possamos evangelizar também ficando sentados na frente de um computador e aproveitar da Internet. Outros estarão atrás de microfones e telecâmeras, usando as ondas das rádios e das TVs. Contudo, apesar de tantos novos instrumentos, nunca poderemos nos esquivar do testemunho da nossa vida pessoal, das nossas famílias e das nossas comunidades cristãs. O encontro entre as pessoas sempre será o critério e o meio decisivo para uma evangelização capaz de marcar e mudar o coração das pessoas e a própria história da humanidade. É nesse ponto que entra a mensagem do Papa Francisco.

Ele nos lembra que as notícias falsas funcionam com a “lógica da serpente”. Se refere ao que lemos no livro do Gênesis sobre a primeira tentação e as suas consequências de pecado e de morte. A mentira sempre se apresenta como plausível, ou seja, possível e razoável. Por esse caminho de engano e disfarce, a notícia falsa acaba sendo acolhida e divulgada. Para os cristãos, Papa Francisco aponta, como antídoto mais radical ao vírus da falsidade, o compromisso a “deixar-se purificar pela verdade”. Na Bíblia, a palavra “verdade” reúne também os sentidos de apoio, solidez e confiança. “A verdade é aquilo sobre o qual podemos nos apoiar para não cair”. Assim, “o único verdadeiramente fiável e digno de confiança” é o Deus vivo. Jesus afirmou ser ele a Verdade e ensinou aos discípulos que “a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). A verdade, portanto, continua Papa Francisco, é algo “relacional”, deve ser buscada nas relações livres entre as pessoas. “A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam polémica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua atividade”. O último convite do Papa Francisco é para que os jornalistas cumpram com consciência a sua profissão. Aquela de ser “guardião das notícias” é uma verdadeira missão, quando promove um jornalismo de paz, a serviço de todas as pessoas, mas sobretudo daquelas que – “no mundo são a maioria” – não tem voz. É uma exortação que vale para todos. Somos chamados a ser testemunhas da Verdade e a desmascarar a “lógica da serpente”.

Mais Artigos