O escolhido

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O escolhido
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Um avião caiu na selva. Morreram todos, menos um piedoso crente que era um famoso pregador. Logo pensou que se Deus o tinha poupado era porque o escolhera para uma grande missão. Ajoelhado, começou a rezar: “Obrigado, Senhor, pelo milagre de estar vivo, porque me escolheste, entre todos, para viver. Obrigado, pelos meus familiares que não sofrerão pela minha perda. Obrigado, pela comida, pela água e pela chance de sobreviver. Eu te prometo que, se chegar são e salvo, darei a todos testemunho de tua bondade”. Pegou um bote salva-vidas, as provisões, e desceu o rio. Estava feliz, teria muito para contar, porém um galho pontudo furou o bote que logo afundou. Ele perdeu tudo e com muito esforço conseguiu alcançar a margem. Exausto, com fome e com frio, mudou a sua oração: “Senhor, se era para eu morrer agora, aqui, no meio das feras, porque me salvaste lá?”. Uma voz do céu lhe respondeu: “Você teve a chance de sepultar os que morreram e de orar por eles. Pensou na dor dos seus parentes, mas não na dor dos parentes deles. Ao invés disso, gastou cinco dias para me louvar porque eu o salvei. Pensou logo nos sermões que pregaria contando a sua incrível história. Em nenhum momento pensou nos outros. Lamento, mas você não passou no teste de solidariedade”. Arrependido, o homem rezou novamente e pediu uma nova chance. De manhã conseguiu um tronco e chegou boiando no vilarejo mais próximo. Viveu mais 40 anos. Nunca mais falou de si. O tempo todo falava do que Deus fez pelos seus santos. Nunca mais se apresentou como o eleito, acima dos outros. Morreu querido e admirado por sempre dar a chance aos amigos. Na lápide do seu túmulo, mandou escrever: “Tornou-se cristão no dia em que aprendeu que o Deus que o amava, também amava os outros”.

Encontrei essa estorinha, assinada pelo padre Zezinho. Pode nos ajudar no domingo no qual proclamamos a página do evangelho de João que fala do amor. Jesus deixa aos discípulos o seu mandamento: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. E ainda afirma que o amor maior é dar a vida pelos amigos. Isso foi o que ele fez de verdade e fez mais, porque perdoou também aos inimigos. Não podemos duvidar: o amor de Deus é tão grande que não tem inimigos, ele ama a todos. Para nós, egoístas e interesseiros como somos, tudo isso parece uma meta inatingível, palavras maravilhosas, mas, no fundo, irrealizáveis e, portanto, fora do nosso alcance. Melhor desistir logo. No entanto, Jesus nos deixou tudo isso como “mandamento”, ou seja, um compromisso a ser tomado a sério. Uma ordem que todos podemos cumprir, porque a todos é dada a possibilidade de amar e de fazer o bem, também se, obviamente, em tantas formas diferentes.

Na sua bondade e providência, Deus respeita a nossa liberdade ao ponto que podemos errar, desprezá-lo, fazer o contrário do que ele nos pede. Mas, usando a mesma liberdade, podemos agir corretamente, praticar a misericórdia, a compaixão e a solidariedade. Por isso, Jesus nos chama de amigos e não mais de servos. Com efeito, nós sabemos muito bem o que o nosso senhor faz: ama a todos. Devemos ser nós mesmos a decidir, livremente, de nos tornar “servos” do amor. Na carta aos Gálatas, por exemplo, Paulo ensina que quem não escolhe servir por amor, acaba ficando escravo dele mesmo, dos seus vícios, do pecado e da morte.

Temos infinitas possibilidade de amar o nosso próximo. As oportunidades não faltam; pequenas e grandes, simples e heroicas, no escondimento e, às vezes, públicas. Talvez seja bom começar pelos pequenos gestos de atenção e carinho. Depois passar para algo mais difícil, como repartir o alimento, a roupa, a terra, a água. Mais um passo e chegamos a assumir alguma responsabilidade na comunidade, no voluntariado, dando com generosidade um pouco do nosso tempo, daquilo que sabemos, da nossa competência profissional. De tanto treinar, alguns e algumas vão se sentir chamados a servir e a amar os filhos, os pais, os doentes…dos outros, não só os da própria família. Talvez, chamados a dar a vida por causa do evangelho. Por amor. O Senhor sempre nos dá novas chances.

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