Cardeal Sergio da Rocha entrevistado pelo portal “Religión Digital”

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Luis Miguel Modino, correspondente no Brasil, do Portal espanhol Religión Digital, entrevistou o cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da CNBB. A conversa foi postada na último domingo, 4 de fevereiro. Reproduzimos o diálogo.

Dada a situação que o Brasil está experimentando, com uma realidade sociopolítica que nos surpreende todos os dias, que cada dia nos apresenta uma novidade, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil frente a essa realidade?

A própria CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, já se pronunciou várias vezes sobre o momento nacional. Estamos preocupados com a situação em que vivemos, mas, acima de tudo, questionamos as iniciativas que envolvem a perda de direitos, especialmente dos mais pobres. Várias reformas ocorreram aqui no Brasil, primeiro o Projeto de Emenda Constitucional, no limite das despesas públicas, depois a reforma trabalhista, a terceirização, agora a reforma da Previdência.

A CNBB tem sido uma voz profética que questiona essas iniciativas, especialmente alertando fortemente sobre a perda de direitos que essas iniciativas trazem. É claro que é cada vez mais necessário viver essa missão profética da Igreja e temos muito o que fazer. Não é suficiente fazer apenas um pronunciamento, é necessária uma ação efetiva de nossas comunidades, participando da vida política do país. Os bispos do Brasil, através da CNBB, fizeram seus pronunciamentos, mas a CNBB tem a pastoral social e os organismos que têm sua ação, mas ainda assim, precisamos da colaboração da sociedade civil organizada atuando e, acima de tudo, precisamos da mobilização de nossas comunidades. Há sempre uma maneira de se mobilizar, embora seja claro que depende da realidade local. Sempre defendemos manifestações pacíficas, sempre apelamos para a não-violência. Vivemos em uma sociedade que já é violenta e não podemos permitir que qualquer tipo de violência seja combatido com mais violência. Mas é muito importante que tenhamos uma ação mais efetiva da população brasileira em seu exercício de cidadania, pois muitas vezes há uma indiferença ou uma certa desculpa em relação à vida política.

O senhores bispos pedem a participação das comunidades  esta é uma preocupação que também está muito presente nas palavras do Papa Francisco. Nos encontros com os movimentos sociais, ele sempre diz que as reformas sociais devem nascer da base. Por que existe essa falta de compromisso, essa apatia que o senhor aponta, mesmo dentro das comunidades da Igreja Católica?

No Brasil, temos fatores históricos que podem explicar um pouco essas reações de apatia ou indiferença. Também temos a falta de oportunidades para um diálogo mais efetivo com a sociedade civil organizada. O próprio governo brasileiro tem tendência a dialogar somente com o Congresso Nacional, negociar politicamente com o congresso. É claro que em uma democracia há sempre isso, mas não pode ser restrito a isso, é necessário que as pessoas sejam mais ouvidas, acima de tudo, a sociedade civil organizada seja mais ouvida para permitir uma participação mais efetiva na vida social.
Eu acho que nós, dentro das comunidades, também precisamos destacar o valor, a necessidade de maior participação política. Porque também depende da Igreja local que essa participação cresça ou não. Penso que é necessário ajudar, encorajar. Eu digo que nós, como bispos, ministros ordenados, que somos pastores na Igreja, precisamos encorajar nosso povo, em nossas comunidades, a pensar sobre a vida política, a participar mais efetivamente na vida política de forma organizada e não apenas individualmente.

As Comunidades Eclesiais de Base sempre influenciaram essa dimensão política, essa presença na sociedade, esse compromisso por um mundo melhor. O 14ª Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) acaba de ser celebrado e refletiu sobre a evangelização do mundo urbano. Como as CEBs podem ajudar nessa jornada, nesse trabalho?

Na mensagem aos participantes do Intereclisal está destacado que não estão oferecendo apenas respostas pastorais através de iniciativas CEBs, mas as próprias CEBs já são uma resposta aos desafios do mundo urbano, porque é preciso construir comunidade, uma comunidade que não se limita ao território, mas que favorece o acolhimento, a integração dos mais pobres, dos excluídos, daqueles que sofrem e que não conseguem encontrar espaço em outras situações. No mundo urbano, as CEBs já são uma resposta, mas é claro que a participação efetiva dos leigos é a grande resposta. Nas CEBs, os leigos são sujeitos da Igreja. Participando das CEBs, é necessário que essa participação não se limite ao interior da comunidade, mas se estenda a uma presença nos diferentes ambientes da sociedade, por exemplo na política, no trabalho, na cultura. Existem diferentes espaços e situações da vida social que precisam de uma presença mais intensa e organizada dos leigos, porque as ações espontâneas e pessoais não são suficientes. Precisamos de uma ação através da pastoral social, por exemplo. As CEBs devem dar valor à pastoral social e se expressar pastoralmente através da ação da pastoral social, porque a comunidade como tal já é uma ótima resposta ao mundo urbano.

Este ano a Igreja do Brasil celebra o Ano do Laicato. Como o Ano do Laicato pode ajudar a caminhar nessa direção que o senhor está apontando? O que se espera da Igreja no Brasil, sobretudo dos leigos e leigas?

Penso que o Ano do Laicato nos ajudará, em primeiro lugar, a dar mais valor à presença dos leigos na Igreja. Às vezes, você tem a ideia de que já está bem como está, que desde o Vaticano II tudo foi resolvido, que os leigos já têm sua participação e espaço.

Infelizmente, nem sempre é esse o caso, e é necessário tornar mais eficaz a presença dos leigos na vida da Igreja, nas comunidades. Por exemplo, temos conselhos e espaços de participação nas comunidades a que deve ser dado mais valor. Esperamos que o Ano do Laicato possa encorajar, incentivar uma maior participação na sociedade, porque acredito que este é o grande desafio. Os leigos estão na Igreja e é necessário que cresçam em participação, mas na sociedade a presença dos leigos ainda não é muito expressiva, especialmente de forma mais organizada.

Um dos grandes desafios é a presença da Igreja no meio da juventude e da juventude na Igreja. O senhor foi nomeado pelo Papa Francisco como relator do Sínodo da Juventude. Como esse sínodo pode ajudar a avançar nessa presença?

Esperamos muito desse Sínodo sobre a Juventude para dar mais coragem, para tornar mais efetiva a presença de jovens na Igreja. Nós fazemos, graças a Deus, um esforço para dar mais prioridade à presença e participação dos jovens na Igreja, no entanto, ainda temos muito o que fazer. De fato, a opção para os jovens, que vem dos tempos de Puebla, aqui na América Latina, precisaria crescer ainda mais. Esperamos que o Sínodo seja uma oportunidade para que os jovens sejam mais ouvidos, e o Papa Francisco tem feito isso, uma vez que favoreceu a escuta da juventude no plural, isto é, das juventudes, não apenas da juventude que está em certo movimento e sim os jovens com os diversos rostos, da juventude do mundo e esperamos que, na assembleia sinodal, a voz dos jovens seja ouvida.

Portanto, todos os esforços da Secretaria do Sínodo, do relator, dos secretários especiais, para receber o máximo possível o sentimento, as aspirações, os desafios dos jovens de todo o mundo para fazer isso repercutir no Sínodo. Esperamos que depois, o Sínodo possa devolver às comunidades os seus frutos e criar impacto na vida da Igreja, porque não pode permanecer apenas na assembléia sinodal, no evento. Esperamos que haja um momento de jornada maior, de participação dos jovens na vida da Igreja, para serem sujeitos do presente da Igreja, não só do seu futuro. É claro que a presença do jovem já existe nas comunidades, na pastoral, mas deve tornar o jovem cada vez mais sujeito na Igreja para ser também sujeito na sociedade.


Junto com este sínodo, o Sínodo dos Bispos da Panamazonia também terá lugar no próximo ano. O Brasil é o país com maior território amazônico, o que a Igreja do Brasil espera desse Sínodo da Amazônia?

O Papa e, claro, o Sínodo, esperam muito da Igreja no Brasil e a Igreja no Brasil também espera muito com esse Sínodo. Vamos oferecer a nossa contribuição, mas também esperamos das orientações pastorais do Sínodo, reflexões, propostas que venham a animar mais a vida e a missão da Igreja na Amazônia. E é claro que o Sínodo é uma ocasião especial para ver os rostos dos povos da Amazônia, ouvir sua voz, ouvir a voz não só da Igreja que está nas cidades da Amazônia, mas também ouvir a voz dos indígenas e sempre defendem suas vidas, seus direitos, sua dignidade.

O propósito do Sínodo é buscar formas de evangelização para os povos da Amazônia, especialmente os povos indígenas. Um dos temas que mais aparecem é a celebração eucarística nas comunidades. Em uma entrevista recente, o arcebispo Erwin Kräutler disse que a questão não tem nada a ver com o celibato opcional ou a ordenação dos homens casados, mas com a forma de ter uma presença eucarística em comunidades onde hoje só acontece uma ou duas vezes por ano. Como encontrar maneiras de fazer isso acontecer?

O Papa Francisco insistiu, e antes dele, em geral, há muitos pronunciamentos, sobre a ministério na Igreja, isto é, dando valor à Igreja ministerial, aos vários ministérios e às diferentes vocações, mas é claro que por mais que os vários ministérios tenham valor com a participação dos leigos, o ministério ordenado tem sua grande importância na vida das comunidades. Tenho certeza de que a própria assembleia sinodal vai pensar sobre como fazer de uma Igreja cada vez mais ministerial, uma realidade; como dar valor aos vários ministérios na própria vida da Igreja e quais respostas pastorais serão dadas às comunidades diante dessa falta de ministros ordenados. Agora, neste momento, penso que não podemos antecipar o que será refletido, mas certamente o problema da ausência de sacerdotes ou ministros ordenados na vida de nossas Igrejas da Amazônia é um fato que certamente deve ser considerado por o próximo sínodo.

Nós ainda não temos o documento preparatório ou o chamado instrumento de trabalho. O diálogo sobre esse sínodo está apenas começando, então precisamos esperar um pouco mais para poder falar sobre esses problemas. Portanto, não temos, neste momento, dados específicos que permitem decisões sobre como essas questões serão abordadas, mas certamente a questão da necessidade de ministros ordenados ou ministros nas comunidades é uma questão atual, já era um tópico antigo, que se torna cada vez mais necessário todos os dias.

(Tradução: Google Tradutor e Redação da Assessoria) [dropcap][/dropcap]

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