Três jovens

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Três jovens africanos foram colocados na grande cabana das reuniões. O Chefe da tribo estava sentado no fundo e aos seus lados estavam os velhos guerreiros. O ancião tomou a palavra e disse:

– Por seis dias vocês ficaram na floresta. Foram testados para ver se têm capacidade de se defender dos mil perigos que a mata esconde. Voltaram sãos e salvos, mas ainda não basta para serem julgados verdadeiros guerreiros. O que fizeram para merecer este título?

– No meio do silêncio, os três jovens contaram os seus feitos. Um havia matado uma onça, o outro, lutado contra uma cobra grande.

– E você, Mamadu, o que fez? – perguntou o Chefe.

– Peguei uma vasilha de mel das abelhas selvagens – respondeu baixinho Mamadu.

Os jovens riram. Roubar mel das abelhas era só questão de paciência, talvez um pouco de audácia, mas não era uma façanha digna de um guerreiro.</p>

– Por que você tirou o mel das abelhas e não foi caçar algum animal feroz? – perguntou o Chefe.

– O senhor sabe que os meus pais são velhos e doentes; devo cuidar deles, não podia deixá-los sem comida. Levei o mel para eles.

O Chefe levantou-se. Estendeu a lança de guerreiro para Mamadu e disse:

– Tome-a, é sua.  Entre todos, você é o mais digno dela. Antes de ser um caçador, um homem deve ser homem. Só há uma maneira para saber se ele o é realmente: quando coloca acima de qualquer coisa o respeito e o amor pelos seus pais.

Com certeza o Mamadu da história não foi um covarde. Talvez tivesse precisado lutar, e muito, contra a sua própria ambição de querer ser o primeiro de todos, por causa de algum gesto arriscado e destemido. No entanto a voz da responsabilidade e do amor com os próprios pais havia falado mais forte. Antes de obedecer ao seu orgulho, deu ouvido ao seu coração. Também para isso precisa muita coragem.

O evangelho de Marcos, deste domingo, não esconde a dificuldade dos apóstolos em compreender as palavras de Jesus, quando falava da sua paixão e morte. O desfecho de sua vida, não ia ser um triunfo com a derrota de seus inimigos e a tomada do poder. Jesus, revelação de um Deus-Amor, Pai de todos, não podia ter “inimigos” para vencer e humilhar. Ao contrário, estava pronto a doar a sua vida para libertar a humanidade inteira ainda iludida pelo antigo Adversário.  Somente fazendo-se o último de todos, obediente e humilde até a morte de cruz (cf. Fl 2,8), podia nos libertar dos falsos ídolos do poder, da força e da dominação.

No entanto os apóstolos continuavam imaginando um reino deste mundo, onde os mais importantes ocupam os primeiros lugares. Para Jesus, porém, primeiro mesmo será aquele que se faz último porque está disposto a servir a todos. E ele deu o exemplo.

Estamos falando de teorias ou de vida cotidiana?  Estamos neste mundo ou viajando em outras galáxias? É difícil para todos pensar e projetar a nossa própria vida como um serviço aos outros. Todos escondemos, dentro de nós e mais ou menos bem, um grande desejo de poder, de aparecer, de ser reconhecidos como os melhores. Os primeiros, enfim, com mais ninguém acima de nós. Ser os últimos? Nem pensar! Para servir os outros? Os outros é que terão que nos obedecer. Isto se pensa, mas, obviamente, nunca se diz. Os discursos sempre são outros. Ninguém quer admitir a própria ambição e a própria sede de poder.

Estamos na reta final de mais uma campanha eleitoral. Quantos candidatos se apresentam como servidores do povo,  declarando-se dispostos a tudo para o bem de todos. Estamos livres de confiar, mas temos direito de duvidar, sobretudo quando são feitas campanhas milionárias. Se ganharem o cargo pleiteado, com certeza o salário dos quatro anos não cobrirá nem de longe os gastos feitos. Devemos acreditar que estão gastando do seu bolso para poder depois, se forem eleitos, servir ao povo com honestidade e desprendimento? Quando a esmola é muito grande, dizem, até o Santo desconfia. Com a dinheirama gasta nas campanhas talvez se pudessem consertar, já, algumas coisas que não funcionam tão bem.

Voltando à historinha, o povo precisa do “mel” de cada dia; quer que funcionem as escolas, os hospitais, a energia, a água, os transportes, a habitação, a segurança pública. Esta é a verdadeira luta urgente e a verdadeira vitória que faz sorrir de alegria os pequenos e os pobres.

Se os outros acharem pouco tudo isso, podem rir do “mel” e continuar a caçar onças e cobras. O Chefe, porém, deu a lança de guerreiro a Mamadu. E o povo a quem a daria?

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